“Concordo com você quando considera por demais ligeira a crítica que se faz no momento e assume o caráter de mera resenha. Como também a elaborada demais nos estudos universitários. Em nenhum dos casos atinge sua finalidade, que não é outra senão a análise. Não é fácil, reconheço, julgar seja o que for, porque sempre o elemento subjetivo estará presente. E a crítica perde todo o seu sentido quando sujeita a um compromisso. Sendo, então, o compromisso contraído com o poder, a crítica submete-se simplesmente a um código – que tem todo o semblante dum regulamento. Suponho que o poder, pelo fato de dispor de institutos do livro, câmaras do livro, arroga-se o pomposo papel de distribuidor da cultura. Mas não é tal; ceva, isso sim, uma falsa cultura, obedecendo a cânones estipulados. Uma instituição do ensino, com vistas a fortalecer um poder desligado da nação, não contribui para a difusão da cultura – que só frutifica pela liberdade de pensar e direito de expor o que se pensou. O editor retrai-se. A intelectualidade entra em estado de anemia. O leitor acaba por perder o gosto da leitura. Já se profetiza até a extinção da atividade literária, substituída por um realejo de moer histórias”.
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/1981 – Julieta de Godoy Ladeira |