“Sempre fui bem tratado pela crítica. Não tenho nenhuma queixa. Meu primeiro livro, Cavalinhos de platiplanto, foi bem recebido, eu nem era conhecido. Porque a verdade é que assim que lancei o livro cheguei a me arrepender, imagine, me expor daquela maneira. E me questionei se o livro valia alguma coisa. Mas os críticos, com sua receptividade, me deram uma injeção de ânimo, me tiraram da fossa por ter tido a audácia de publicar um livro sobre cujo valor eu tinha sinceramente sérias dúvidas. (E se fosse o contrário, a crítica tivesse arrasado?) É uma pergunta que já fiz a mim mesmo. Qual seria a reação, se eu desistiria ou não, caso a crítica tivesse sido arrasadora. Só sei que, pela seriedade com que escrevi esse livro – e os que vieram depois -, a seriedade com sempre encarei o trabalho de criação literária, acho que iria superar as críticas e ia continuar escrevendo. Porque eu tinha uma certeza, aquele meu primeiro livro havia sido escrito com alma, com o melhor que pude. Com essa maneira de trabalhar, dificilmente iria desistir. Na verdade, de certa forma, a crítica unânime e favorável logo na primeira produção até me prejudicou... Apavorado com o sucesso do primeiro livro, eu só criei coragem para lançar o segundo sete anos depois, De jogos e festas. Fiquei com medo de não alcançar o nível de qualidade reconhecido no primeiro e que a crítica me arrasasse”.
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/1987 – Fuad Atala |