“A crítica não é só a escrita. Dou um exemplo. Uma vez, quando estava escrevendo a novela Chang, a última sacada, fui com minha mulher ao supermercado. De repente, chegou uma moça e perguntou à balconista: ‘O que você está achando dessa novela?’ Eu estava de costas, mas deu para ouvir a resposta: ‘Ela é boa, mas é muito lenta’. Puxa, aquela foi uma crítica sensacional. Voltando para casa, comecei a mexer no texto. Corto uma cena aqui, mudo um diálogo ali. Quinze dias depois, telefonam-me da Globo: ‘Pô, o que é que houve. Que melhorada que você deu’. Sabe, essa crítica da balconista salvou meu emprego. Uma crítica da qual tenho um pouco de medo é a de minha mulher. Quando ela leu Manopan, a história de um guerrilheiro famoso que chega a São Paulo, ferido, à procura dos amigos de esquerda e tal, dei a ela para ler. Pensava que ela ia me dizer: ‘Puxa, meus parabéns’. Que nada! Ela leu e me disse: ‘Sabe, você está escrevendo sobre uma região que não conhece’. Fui ver depois, ela tinha razão. A coisa não estava tão bem como eu havia pensado. Telefonei para a editora, pedi mais três meses de prazo e fiz Malditos paulistas. Sabe, não é só o crítico literário que faz crítica. E com relação à crítica literária propriamente dita, fica-se um pouco de pé atrás. Há sempre os núcleos, os grupos. Agora está melhorando, mas até pouco tempo a crítica no Rio de Janeiro nunca dava colher de chá para os paulistas. Além disso, a crítica infelizmente não tem mais aquele espaço nos rodapés dos jornais. Álvaro Lins, Tristão de Atahyde, Agripino, Sergio Milliet, Antonio Cândido... era duro passar por esse time, mas quem passasse estava consagrado. Hoje, para fazer sucesso, o escritor precisa ter muito relacionamento com a televisão e outros órgãos. O que seria de Machado, gago e tímido se vivesse entre nós?”