"Em primeiro lugar não foi propriamente ingressar na literatura porque eu, desde jovem, já tinha uma vivência literária. Publiquei em 1945 um livro de poesia no Rio de Janeiro. E militava no meio literário. Mas, naturalmente, isso foi interrompido pela minha militância política; e daí voltar a fazer literatura foi uma motivação de ordem humana, principalmente porque sou um cidadão com uma vocação pública, e como foram cassados os meus direitos políticos, não tinha mais como exercer essa vocação. E como eu já tinha, antes, essa vivência literária, procurei voltar a ela e tentar, através da literatura, exercer minha vocação de homem público. Acredito que se eu não tivesse sido cassado, as minhas responsabilidades como líder político talvez não me permitisse, materialmente, voltar à literatura... Os problemas da Amazônia, principalmente os problemas humanos, como decorrência da minha atividade política, foram a tônica do meu exercício de mandato. Então, claro que durante todo esse tempo tive uma experiência não só de problemas humanos, sociais, econômicos, políticos, como uma motivação muito grande em torno de todos esses assuntos; naturalmente que foi um caldeamento que se operou durante essa época e que permitiu usar todo esse material, atualmente, na trilogia que estou escrevendo".
Fonte: Jornal Diário do Pará, 29/06/2008