"Acho que neste século o escritor está numa posição análoga à do ecologista que vê o mundo sendo destruído e se sente impotente. Não importa o que faça, ele percebe que acabará perdendo a batalha que destruirá o mundo. Um escritor sente o mesmo em relação à cultura. Porque a cultura acabará sendo sugada pela televisão e desaparecerá. Cultura vai virar algo como um hambúrguer do McDonald’s que se come e se esquece. É aí que o papel do escritor se torna importante… Sou um  conservador de esquerda (risos). É o que tenho sido nos últimos 20 anos. E não estou sozinho nesta posição. Muita gente acha o mesmo: que precisamos chegar a alguma visão nova sobre a política. O que não se pode é continuar aceitando um mundo de pessoas com fome, sem teto e sem os cuidados que o socialismo proporciona. Por outro lado, é imprescindível garantir a proteção das liberdades individuais. Encontrar um meio de fazer isso é… Os ricos dizem que é impossível, pois significaria a morte do capitalismo. Puro cinismo. Não importa o tipo de sociedade, os ricos sempre prosperarão. Até mesmo sob o comunismo soviético eles encontraram meios de viver melhor que as outras pessoas. Esta paixão de viver melhor que os outros é tão poderosa e enraizada no ser humano que jamais desaparecerá".

Fonte: O Globo, 28/03/1993 - Edney Silvestre