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Psicanálise
Luiz Alfredo GArcia-Roza

"Acho que é possível fazer uma relação entre a novela policial e a prática psicanalítica, mas num sentido amplo. Primeiro, ambos são o exercício da suspeita. Você parte da suspeita de uma recusa do óbvio, do dado, que no caso da psicanálise é o que o paciente conta como um relato consciente e a partir da recusa disso como contendo a verdade, vai através das falhas, das fendas e das hesitações, ou seja, nos interstícios deste discurso você vai procurar o que seria o significante inconsciente, ou aquilo que seria a manifestação do inconsciente. Você parte de certos fragmentos para procurar algo que não é aquele discurso, é outra coisa. Da mesma maneira a investigação policia é feita a partir de fragmentos para descobrir o que seria um outro registro, outro plano, que é o plano do crime propriamente dito. Então, nesse sentido, eu acho que há uma certa analogia entre a prática psicanalítica e a prática policial. Semelhança é uma palavra forte, porque na novela policial o detetive investiga apesar do assassino, ao passo em que na prática psicanalítica você precisa do depoimento do paciente, da relação transferencial que se dá numa sessão analítica. Uma outra analogia que se pode fazer, mas num sentido mais amplo, é que ambas as investigações têm como ponto de partida um crime, um assassinato. No romance policial, é óbvio, o crime é cometido pelo assassino. Na psicanálise os dois acontecimentos primordiais são assassinatos, são parricídios. O Édipo é o assassinato do pai, da ordem primordial. Aí seria uma articulação mais ampla, mais profunda talvez, mas só isso. Eu não iria mais além nesta comparação".

Fonte: www.comciencia.br/entrevistas/roza/roza01.htm (05/11/2012)

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