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Relações Literárias

AUGUSTO DE CAMPOS

por Affonso Romano de Sant'Anna

“Os irmãos Campos são pessoas maravilhosas, mas têm uma cultura de tal ordem esmagadora – sabem russo, japonês, chinês, rego, latim – que o poeta jovem, coitadinho, que chega com meia dúzia de pensamentos, não tem o que falar. Acaba seguindo o que eles dizem, porque, além do mais, a teorização é muito fascinante... Acho-os muito bons poetas... O que eu não gosto na atitude dos concretos, é que para eles só existe 1956 – Concretismo. Riscaram os concretos dissidentes, não tomaram conhecimento dos neoconcretos (1956), a Práxis não existe para eles, o poema-processo não tem o menor sentido. 'Vilão de Rua' nem se fala. Só se interessaram por Tendência (1957), porque precisavam dar o 'pulo participante' na época agitada de João Goulart”... Os Campos reduziram muito a atuação deles – têm direito de fazer isso, claro – fizeram tudo programadamente, quer dizer, quando eles atingiram um nível internacional, por uma questão de economia, pouparam contato em nível doméstico. É uma questão de opção pessoal”. 

Fonte: Escrita, S.Paulo, v.2, n. 16 – 1977 – Astolfo Araújo e Wladyr Nader   

 

por Antonio Cícero

“Tenho uma admiração pessoal imensa pelo Augusto e pelo Haroldo de Campos. Tenho até medo de dizer certas coisas e magoá-los, mas é preciso dizer. Acho que essa hierarquia poundiana que coloca os inventores de um lado e os diluidores de outro é absolutamente errada. Não se deve pensar a poesia assim. Na poesia, não é a novidade que conta, mas o imponderável. Goethe, por exemplo, não escreveu o primeiro Fausto, mas fez o melhor. Essa hierarquia poundiana acaba sendo injusta”.

Fonte: O Estado de São Paulo, 22/12/1996 – José Castello

 

por Armando Freitas Filho

“Outro dia li uma entrevista do Augusto de Campos em que ele diz que para escrever poesia hoje é preciso ter um computador da marca tal. Ora, isso é uma confusão total entre o meio e a expressão! Não é através do computador que você vai chegar a algum lugar, é através da sua cabeça. É uma estética fashion, que tem a ver com o estilo-buquê e o poema-bibelô. É uma coisa de fachada.

Fonte: O Globo, 27/09/1997

Por Bruno Tolentino

“Os irmãos Campos não sabem inglês, nem alemão, nem grego. Por exemplo, traduziram Rainer Maria Rilke e criaram a frase ‘ele tem um pássaro’, que é literal, mas que em alemão quer dizer que alguém tem uma telha a menos, é meio doido. São péssimo poetas e péssimos escritores. Não sabem absolutamente nada do que alardeiam saber.”

Fonte: Veja, 20/03/1996 – Geraldo Mayrink

por Ferreira Gullar

"Nós constituíamos a chamada vanguarda da época, que nasceu basicamente desse meu livro (Luta corporal, 1954). Não porque ele tivesse proposto o caminho da poesia concreta, mas porque ele quebrou a poesia anterior, rebentou o que existia. Os Campos, quando viram meu livro, me procuraram e disseram que eles também queriam mudar a poesia brasileira. Algumas das idéias foram dadas por mim a partir da idéia básica de que a nova poesia deveria propor o fim da sintaxe verbal. Eles aderiram a essa tese, depois se apropriaram e me expulsaram da história. Como a enciclopédia soviética, apagaram tudo e reescreveram. Deixei de merecer a glória de pertencer às origens da poesia concreta, o que agradeço. Eu não tinha a mesma posição. Esse coisa de desintegrar a linguagem eu já tinha feito com Luta corporal, algo que tinha raízes profundas em minha experiência pessoal. Eles propunham um plano-piloto de poesia, o que considerava um contra-senso. Imagine se eu ia me ligar a um movimento para dizer como se faz poesia. Seria ingenuidade. Não digo nem o Augusto mas o Haroldo e o Décio ssão pessoas inteligentes, cultas, e a tese é primária, Eles sempre tiveram esse vezo de coisa modernosa, do momento. Depois ele adotaram a expressão da guerrilha, coisas em moda, que nunca me agradou. Jamais pensei que a poesia fosse um produto racional, cerebral. No manifesto, eles propuseram que poesia fosse feita a partir de então segundo fórmulas matemáticas! A métrica é a única possiblidade que há de você usar uma relação verbal/matemática. As palavras são arbitrárias. Liguei para Augusto, falei que isso era impossível. Eles estavam propondo um fórmla matemática que determinasse as palavras do poema! Aconselhei-os a ler Cassirer, que demosntra que as linguagens simbólicas são intraduzíveis. Não existe relação matemática para dizer que agora é tal palavra que deve entrar em tal lugar. Falei para eles que isso era charlatanismo. Ficaram zangados e confirmaram a publicação. Falei então que publicaria um manifesto ao lado me desligando do movimento. O engrado nisso é que algum tempo depois, passado o calor da briga, o Décio, que sempre foi o mais cordial e o menos sectário do grupo, apareceu no jornal falando que finalmente se criava no país uma indústria de base e que na poesia era a mesma coisa. Eles propunham agora a criação de uma tal de 'posia de base'. Falei: ' Mas que diabo é isso?' (risos) Queriam publicar outro manifesto. Lembrei a ele que havíamos rompido porque eles escreveram um manifesto dizendo que a poesia is ser feita segundo fórmulas matemáticas. Disse que não publicaríamos um manifesto anunciando uma poesia que nunca seria feita. Ele nunca mandou poesia de base nenhuma nem o manifesto. Não há na história da literatura brasileira a fase 'poesia de base' da poesia concreta proque, felizmente, não publicamos. Se tivéssemos feito isso, já estaria sendo ensinada nas universidades. Nunca houve posição ideológica no movimento. Houve um certo oportunismo deles na época da renùnica do Jânio, quando começa a discussão pela reforma agrária... Para não perderem o bonde, começam a querer introduzir na poesia deles tinturas políticas, mas quem lê a teoria da poesia concreta vê que ela é, por definição, apolitica, uma atitude formalsita. Eles chegam a dizer que 'o contéudo da poesia é a época. O poeta não tem de pôr contéudo algum'. Ora, se o poeta não pode colocar conteúdo em seu poema e o conteúdo é mera elaboração formal - velocidade, cidade, dade... Então isso é que é poesia!? Novo, novelo, no velho... São jogos de palavras, trocadilhos, aliterações".

Fonte: LUCENA, Suênio Campos de. 21 escitores brasileiros: uma viagem entre mitos e motes. São Paulo: Escrituras, 2001.

por João Cabral de Melo Neto

"Não me vejo neste papel (de príncipe dos poetas brasileiros), mas vejo outros, como Ferreira Gullar, Augusto de Campos, Mario Quintana. Eu nem me sinto na primeira linha, ou na equipa principal. Jogo no segundo team.

Fonte: SARAIVA, Arnaldo. Conversas com escritores brasileiros. Porto: ECL, 2000. (Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses).

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