"Desculpe-me mas sua pergunta (se eu prefiro mais fazer cinema ou literatura) não faz sentido. É o mesmo que perguntar às crianças de quem você gosta mais, de mamãe ou de papai? Escrever é uma atividade solitária, mas tranquila, mas também mais introspectiva. Já filmar é uma atividade coletiva, mais divertida, mas também mais fatigante. Elas não oferecem o mesmo tipo de prazer. Mas, para tentar responder, posso dizer assim: eu creio que minha literatura durará mais, porque ela é mais sólida do que meu cinema. Godard dizia que os filmes são 'obras provisórias', o que é correto, até porque eles se deterioram com o tempo. Concordo com Godard, a literatura é mais duradoura que o cinema... Depois de concluir minhas memórias, não tenho mais projetos literários. Não sei dizer se parei em difinitivo de escrever ou não, só posso dizer que não tenho mais idéias. Continuo, por outro lado, trabalhando intensamente em meus projetos para o cinema, mas também são filmes que não se fazem mais, que abortam pelo caminho, porque não há mais dinheiro para a realização de filmes como eu gosto. Mês passado, estive nas ilhas Maurício para realizar um projeto para o cinema, o produtor bancou minha estadia, tudo o que eu desejava ver fazer, mas eu sei que não se fará, então me pergunto por que gastar tanto dinheiro com a viagem. Agora, em fevereiro. sou convidado para ir a Cuba para mais um projeto, mas acho que será a mesma coisa novamente. Eu sou um cineasta que não interessa mais ".
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/1997 - José Castello
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