“Vou contar-lhe as minhas duas maneiras de escrever. E também aí o divisor de águas de 1975 é muito importante. Até o Quarup, tinha escrito todos os meus livros anteriores à máquina. Até o rascunho eu fazia à máquina. Depois eu corrigia, conferia. O Quarup já foi um livro bastante corrigido. Mas escrevi-o de um jato. Durante dois anos, escrevi Quarup à máquina. Depois passei um tempo longo revendo-o e passando a limpo, antes de entregar a uma datilógrafa. A partir de 1975 e a partir de Refexos do baile, eu passei rigorosamente todo o meu trabalho de literatura à mão. Sinto uma intimidade maior com o meu assunto. Sinto que o ritmo mais lento me ajuda muito. Ganho tempo, perdendo tempo no escrever. E de lá pra cá não me afastei mais disto. É uma divisão importante, porque define o modo de produção de um autor pertubado pelo trabalho externo e de um escritor entregue exclusivamente à sua literatura.”
Fonte: RICCIARDI, Giovanni. Auto-retratos. São Paulo: Martins Fontes. 1991.
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