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Por que escreve?
Antonio Callado

Sei lá, é uma vocação, que considero uma coisa muito forte, quase física. No entanto, “por que é que eu escrevo?”, “para que é que eu escrevo?”. Eu começo a ficar muito perdido, por que eu sou um homem, por exemplo, muito político do ponto de vista partidário, mas muito ideológico, sou muito ideológico. Então eu sinto que em tudo o que eu escrevo transparece a minha ideologia. Acho muito difícil não transparecer o que eu penso. O que acho da vida em geral, talvez sobretudo, em relação ao Brasil. Mas é esse o meu motivo de escrever? Certamente, não. Nesse sentido, eu me sinto muito mais poderoso quando me manifesto como jornalista. Não há a menor dúvida. Um artigo meu, violento, claro e nítido, é muito mais satisfatório do que botar isso na cabeça de um herói meu dentro de um livro. Então é por isso que eu escrevo? Não! É por pura vaidade, pela idéia de que o escritor é um ser especial que consegue mais do que os outros, como uma coisa meio mágica. Sim, porque a escrita literária é invariavelmente mágica. Estou convicto de que os principais escritores de nossa devoção são escritores muito mágicos, escritores que criam, muito independentes de tudo. É isso então: possivelmente a gente está querendo emular estes grandes escritores; o escrever é muito ligado à idéia da glória. Acho que escrever é a idéia de sobreviver. Realmente, outros motivos me parecem insuficientes. Acho que é o duro desejo de durar.”

Fonte: RICCIARDI, Giovanni. Auto-retratos. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

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