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Como escreve?
Antonio Torres

"Escrever tem que ser em casa. Para isso, uso um computador com o qual estou me acostumando. Trabalho numa agência de publicidade. Isso me obriga a produzir apenas de manhã cedo ou à noite. Mas não me canso. Ao contrário. Já fiquei várias vezes até duas, três horas da manhã e acordei às sete para trabalhar, numa boa. Jamais falo sobre a história que estou elaborando. Acho que quem diz que está escrevendo perde a obrigação de passar para o papel. Raramente levanto de madrugada para anotar alguma idéia que me passa pela cabeça. A gente faz isso só quando está no meio de uma produção, depois de finalizar o trabalho diário, e ocorre uma idéia para melhorar o texto... As minhas histórias vêm de lembranças, memórias, sonhos e reflexões. E leva tempo para processá-las. Tudo depende de uma primeira frase. Ou título. O resto, só o teclado dirá. O romance sofre muito fluxos e refluxos, avanço e recuos. Muito vai-e-vem. Mas a primeira frase, a rigor, contém a estrutura do livro... O desenvolvimento da narrativa só o tempo é que diz. Demorei oito meses para escrever alguns livros, enquanto outros demoraram quatro anos. O desenvolvimento é dado por uma dialética do discurso ficcional. O que é isso? É a palavra que puxa a palavra, o personagem que puxa o personagem. Para se escrever um livro tem que se ter muita paciência com você mesmo. Paciência com os momentos que você não consegue realizar... Vou dar um exemplo sobre criação de personagem. Estava na Bahia, para lançar O cachorro e o lobo, e uma irmã minha reuniu toda a família. Tenho quatro irmãs. Todas elas queriam saber em qual eu tinha me baseado para criar um personagem. Disse que em todas elas. O personagem é isso: a soma de muitas pessoas. Ele é recriado em cima de muitas pessoas. Mas com o tempo, a fonte desaparece e surge o personagem mesmo".

Fonte: Correio Braziliense, 05/10/1997 - Alexandre Corrêa

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