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Como escreve?
Bernard Malamud

"Não há uma única maneira – existe tanta tolice dita a esse respeito. Você é quem você é, não Fitzgerald ou Thomas Wolfe. Escreve-se sentado e escrevendo. Não há uma ocasião ou lugar específicos; você tem que se adequar a si mesmo, à sua natureza. O jeito como uma pessoa trabalha, supondo-se que seja disciplinada, não importa. Se ela não é disciplinada, não há mágica que possa ajudar. O truque é arrumar tempo – não apenas alguns minutos – produzir ficção. Se as histórias vêm, você as escreve, está no caminho certo. Todo mundo acaba por aprender qual é sua melhor maneira. O verdadeiro mistério a ser solucionado é você... Quando começo, tenho uma idéia muito bem desenvolvida do assunto do livro e de como ele deve seguir, porque geralmente venho pensando e fazendo anotações há meses, ou há anos. Costumo ter o final em mente, o último parágrafo, muitas vezes textual. Começo pelo início e me mantenho fiel ao caminho traçado, desde que este seja um caminho razoavelmente estreito. Se de repente me vejo em mar aberto, meu instinto narrativo é minha bússola, com auxílio do astrolábio, o tema. O destino, onde quer que seja, está, como eu disse, já definido. Se me extravio, não chega a ser uma longa digressão, serve para conhecer o oceano, senão o mundo. A idéia original, alterada, mas reconhecível, permanece de um modo geral... Quanto a rascunhos de um romance, escrevo muito mais do que três. Normalmente, no final do primeiro as coisas estão no lugar. O segundo acerta o enfoque, desenvolve, refina. Por ocasião do terceiro, a maior parte do entulho já se foi. Trabalho com a língua. Adoro a quintessência da reflexão posterior ".

Fonte: Os Escritores 2: As históricas entrevistas da Paris Review. São Paulo: Cia. das Letras, 1989.

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