Volta para a capa
Como escreve?
Bernardo Ajzenberg

"Crio de olhos abertos, no teclado de um laptop, mas é como se eles estivessem fechados. Como se olhassem para dentro da cabeça, sugando fantasias, o medo, hesitações, fruindo alguma alegria, euforias. Por isso, o tapa-ouvidos é, muitas vezes, essencial – assim como o isolamento no meu pequeno escritório-biblioteca, em casa. Costumo partir de uma cena real ou imaginada, singela, porém ímpar, inusitada, associada a algum tema universal (amizade, amor, ciúme, terror, fuga, traição, hipocrisia, curiosidade...), para daí supor e adivinhar seqüências e personagens que, mesclados, formem um enredo capaz de destrinchar aquele tema – e outros que a ele venham se associar na escritura. Episódios ou pedaços de diálogos que observo ou capto nas ruas ou locais públicos se unem – mais ou menos deformados – a outros imaginados, a casos de minha própria memória e a fatos extraídos de jornal. Assim a história vai se compondo, cruamente, cristalizando uma estrutura. Isso feito, é mergulhar na piscina e dar braçadas, nadar, escrever... nadar... escrever, sentir dores e acalmá-las, rir, lapidar frases, chorar, trocar palavras, nadar, criar armadilhas invisíveis e pontes quase imperceptíveis para estimular e tentar enriquecer a “viagem” do leitor... reescrever, nadar... Quanto mais regularidade e assiduidade, melhor, mais produtivo. Até sentir que a coisa está pronta e saborear, com ansiedade, o alívio de mais uma arriscada exposição ao público".

Fonte: Depoimento em 9 de julho de 2003.

“Frequentemente uso um poderoso tapa-ouvidos quando escrevo. Ele me ajuda. É uma forma de dar mais atenção à bagunça explosiva que vem de dentro da cabeça, sem intermediações e sem perder nenhum detalhe dela.”

Fonte: http://michellaub.wordpress.com (23/10/2012)

Prossiga na entrevista:

Por que escreve?
Onde escreve?
Jornalismo

Música

Biografia