"O processo é sempre lentíssimo. Todas as vezes que eu comecei a escrever romances com rompantes, não foi adiante. Não passou da página 5. Eu preciso ter uma estrutura completa na minha cabeça, para daí começar a escrever. Agora, o ato de escrever é inspirador. Normalmente, o livro muda de rumo. Mas eu fico com a estrutura prévia como uma âncora de salvação. Se eu me perder, eu volto para ela”.
Fonte: Gazeta Mercantil (Curitiba), 30/12/1999 – Marci Ducat
"É um processo bastante demorado. Leva cerca de dois anos de gestação na cabeça a idéia do livro. Eu preciso ter várias coisas. Primeiro, motivação de uma cena ou de uma situação dramática, literária, que me pegue. Minha segunda preocupação é um roteiro: preciso ter um esqueleto narrativo, mesmo que eu abandone esse esqueleto. Não consigo começar um livro sem saber onde ele vai parar. Preciso ter um final, que quase nunca dá certo, porque muda no meio do caminho, mas eu não saio da terra sem essa âncora. E, finalmente, o mais importante para começar a escrever, é um linguagem. Preciso de uma frase concreta na cabeça, eu tenho que ter um início do livro que me dê a consistência de uma linguagem. Essa linguagem me diz exatamente quem é o narrador, qual é o registro do livro, onde é que ele trabalha. Por exemplo, Uma noite em Curitiba, eu estava há um ano escrevendo até que surgiu aquele "escrevo este livro por dinheiro...". Então eu já tinha um personagem inteiro na frase. Quem diz isso já tem toda uma visão de mundo, uma maneira, uma postura com relação ao leitor, um tipo de ironia, um cinismo, exatamente o caráter do personagem inteiro ali. E o personagem é meio Frankenstein. Ela vai tomando corpo, começa por essa linguagem e na medida em que você está escrevendo começa a ver o personagem. Esse ver é uma atitude puramente mental, porque curiosamente eu não sou um escritor descritivo com relação aos meus personagens. Eu acho graça, as pessoas lêem o Trapo e me dizem assim "gostei tanto do professor Manoel, aquele velhinho gordinho". Onde é que está escrito que ele é gordinho? E outros dizem assim "parece que vejo aquele professor aposentado, magrinho". Naturalmente que é sugestão. O leitor escreve o livro junto. E é o mesmo processo meu, eu tenho uma figura na cabeça. Mas você só passa para o leitor aqueles detalhes que são estritamente necessários. No caso, ele era careca. É o único dado da aparência física que se sabe do professor Manoel. Assim como o Trapo era cabeludo, mas não tem descrições. E todos os meus personagens têm mais ou menos isso. Na verdade é um estado mental que eu tenho na cabeça, um tipo de um temperamento, um caráter e uma linguagem. A linguagem é o fundamental, eu tenho que ter uma linguagem que revele imediatamente quem é o sujeito, e tem que ser coerente na estrutura romanesca".
Fonte:
www.ciberarte.com.br (09/05/2008)
"Se o livro já vai a meio, nada me perturba muito; reservo três horas da manhã para ele e toco em frente. Mas começar um livro novo é sempre torturante. O primeiro sintoma é uma síndrome de arrumação do escritório, que vai obsessiva ao último clipe perdido na última gaveta, até finalmente criar coragem e começar a olhar para a página em branco.”
Fonte: http://michellaub.wordpress.com (23/10/2012)
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