"Durante todo o tempo que venho escrevendo romances, raramente tenho indagado a mim mesmo acerca da técnica que vinha empregando. Quando começo a escrever, não me detenho a refletir se estou interferindo demasiado diretamente na história, se sei demais a respeito de meus personagens e se deveria ou não julgá-los. Escrevo com completa naïveté, espontaneamente. Jamais tive qualquer idéia preconcebida do que poderia ou não fazer. Se hoje faço, às vezes, tais perguntas a mim mesmo, é porque elas são feitas a meu respeito – e por todos os lados. Na realidade, não há problema deste tipo cuja solução não seja encontrada no trabalho realizado, quer este seja bom ou mau. A preocupação com tais questões constitui um obstáculo para o romance francês. A crise no romance francês, de que tanta gente fala, será solucionada tão pronto nossos jovens escritores consigam libertar-se da idéia ingênua de que Joyce, Kafka e Faulkner são detentores das Tábuas da Lei de técnica da literatura de ficção. Estou convencido de que um homem dotado de temperamento real de romancista transcenderá tais tabus, tais normas imaginárias... Um romancista elabora espontaneamente as técnicas que se adaptam à sua própria natureza. Assim, em Thérèse Desqueyroux, empreguei certos expedientes dos filmes mudos: falta de preparação, começo súbito, recursos retrospectivos. Eram métodos novos e surpreendentes. Na ocasião lancei mão, simplesmente, de técnicas que meu instinto me sugeriu. Meu romance Destins foi, igualmente, composto com o olhar voltado para as técnicas cinematográficas... Escrevo sempre que me apraz. Durante um período criador, escrevo todos os dias. Um romance não deve ser interrompido. Quando deixo de ser transportado, quando já não sinto como se estivesse recebendo um ditado, paro".
Fonte: COWLEY, Malcolm. Escritores em ação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968.
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