"Meu estilo sou eu. Procuro, apenas, por uma técnica de criação, localizar meus leitores na época aproximada de cada novela. Então, uso expressões, costumes e o mais, do tempo descrito... De uma maneira muito vaga, sei, quando muito, o assunto da novela. Isso mesmo passível de modificações radicais. As próprias personagens, depois que tomam vida própria – porque personagem que não se define no decorrer da trama, deve ser eliminada, - fazem seu futuro. Nem mesmo precisam mais do autor para sobreviverem. Quando escrevi João Abade, pensei em matar "Maria Olho de Prata" logo nas primeiras páginas. Assim achava necessário para o bom andamento da guerra que envolve todo o romance. Minha mulher (que datilografava as páginas) gostou da mulata e se opôs a que ela morresse tão cedo. Pois bem: durante o resto do livro cheguei a armar até armadilhas para que a mulata morresse e ela, por sua conta e risco, se desvencilhou de todas as traições ... e chegou incólume ao fim do livro. Isso não escapará ao leitor que se propuser a prestar atenção na coisa. Por isso, tenho a impressão que, se há escritor que planeje um romance como quem planeja uma casa ou uma ponte, será um obreiro, um artesão ou lá o que for, mas jamais poderá ser um criador."
Fonte:www.joaodorio.com/Arquivo/2004/04,05/meuamigo.htm (12/07/2008)
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