"Bom, é difícil mas na verdade, assim, a minha obra autobiográfica é um pouco ficcional e a minha obra ficcional é bastante autobiográfica. Eu acho que tem ali um tempero de você inventar sobre coisas que aconteceram com você, que aconteceram com seus amigos, que você ouviu falar. Se for o caso, Não és tu, Brasil que é um relato histórico, saber inventar o que aconteceu na periferia dos fatos, que é o que eu fiz ali. Tem inclusive um encontro fictício de um personagem do meu no livro com Lamarca, mas procurei inventar esse encontro sem ferir muito os dados históricos. Mas o que acho fundamental é não ter regras. Eu tenho descoberto, nos meus poucos anos de escritor, que as regras foram inventadas por aqueles chatos que não sabiam escrever e que não ajudam a inventar nada. Você faz uma coisa seguindo padrões muito confiáveis, enquanto o interesse do leitor é no escritor estar arriscando...
o meu processo de criação, ele é lento, ele não é acelerado assim e eu não consigo fazer coisa sob encomenda, muitas pessoas me pedem, mas eu não consigo nem começar. Eu faço aquilo que.. é de uma certa arrogância até falar isso, mas já que eu tive meu primeiro livro sucesso, dinheiro para me estabelecer financeiramente, eu consigo fazer do resto aquilo que realmente eu estou com vontade de fazer e nunca procurei em nenhum outro trabalho meu seguir o mesmo caminho do sucesso do Feliz ano velho. Eu sei que Feliz ano velho é uma coisa particular, teve o seu tempo. Eu poderia ter escrito, como muitas pessoas me pediram para escrever, o Feliz ano velho II, eu poderia ter continuado nessa onda, entendeu? Ter feito biografias sexuais juvenis. Mas preferi partir para coisas que realmente estavam me interessando".
Fonte: Programa Roda Viva, da TV Cultura,
08/12/1997,