"Uma vez escrita a primeira cena já não me encontro livre. (...) Construo cena a cena... Tento imaginá-las com muita precisão antes de as escrever. Imagino-as um pouco à maneira dos sonhos acordados que as crianças têm (...). Depois da primeira intervenção de uma personagem continua-se a ser muito livre perante ela. À medida que vai ficando mais bem desenhada fisicamente, à medida que se envolve em ações mais diversificadas, o autor fica cada vez menos livre, porque se apercebe claramente de que há coisas que a sua personagem pode fazer e coisas que não pode fazer; e se o romance vingar, no fim o autor já não tem liberdade nenhuma. Só pode acabar como acaba".
Fonte: CHAPSAL, Madeleine. Os escritores e a literatura. Lisboa: Dom Quixote, 1986.
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