"Numa reportagem, num relato, procura descrever-se o que se viu. Isso coloca uma série de problemas literários, dado ser necessário esforçar-mos por apresentar verdadeiramente a realidade. Por exemplo, está a fazer- se uma reportagem do Grande Prêmio Automóvel de Mônaco. Vê-se Stirling Moss saltar do seu carro a cem por hora... Vê-se o carro voar e esmagar-se, Moss a ser cuspido... Existe, teoricamente, mil maneiras de descrever a cena. E, no fundo, não existe mais do que uma; é necessário procurar durante algum tempo a que representará melhor tal impressão. Isso é próprio da reportagem, do relato. O romance, a verdadeira criação, realiza-se de maneira diferente. Suponhamos que, num dado momento da sua vida, o escritor… Supunha que o escritor é uma balança. Numa certa fase de sua vida, ao longo de um ano, verificam-se alguns acontecimentos que fazem descer um dos pratos da balança... A obra que então criou, mesmo sem qualquer alusão direta aos acontecimentos que fizeram pender a balança, é uma espécie de resposta: ela fixa o peso, volta a estabelecer o equilíbrio da balança. Compreende o que quero dizer? Um relato ou uma reportagem é, por sua vez, a resposta direta do escritor sobre o acontecimento que ele narra. O romance é uma resposta global..."
Fonte: CHAPSAL, Madeleine. Os escritores e a literatura. Lisboa: Dom Quixote, 1967.
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