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Grandes entrevistas

 

Ildásio Tavares

Entrevistado por Gustavo Felicíssimo, publicada no seu site http://sopadepoesia.blogspot.com.br/2010/11/ (11/11/2012)

É possível que essa tenha sido a última entrevista concedida por Ildásio Tavares. É a primeira vez que a publico na íntegra.

- Fazer poesia, atualmente, tem sido o mesmo que tirar de onde está vazio e colocar onde está cheio?

Eu diria que sempre foi muito mais perceber o vazio para tentar alcançar plenitude. A graça está na tentativa.


Na lírica moderna o poeta passou a cantar a própria poesia em oposição à realidade opressora do nosso tempo. Como você analisa tal fato?

Sempre foi assim. Contudo, em nossa época, o poeta sofre uma crise tão forte de identidade ante um sistema esmagador que, às vezes, cantar sabe a um grito no escuro.


– E o que, na sua ótica, justifica esse grito?

A total necessidade de expressão do indivíduo amordaçado pelo sistema.


É possível que a falta de critério no uso do verso livre esteja proporcionando a retoma do estudo da versificação por parte dos novos escritores ou você acha que essa é uma condição cíclica?

Eu precisaria ter mais dados para fazer uma avaliação. Todavia este é um processo dialético, o esvaziamento de um conduz a valorização do outro. O verso medido nunca saiu de cena, nem em 22, mais tarde Vinicius e, com ênfase em 45. Cada período tem seu verso medido, tem seu verso livre. E precisa achá-los. Achar a dicção do seu tempo. O decassílabo de Camões e o de Carlos Falck, ambos têm dez sílabas métricas. Mas são dois versos diferentes.


– Por falar em 22, o que o modernismo trouxe de colaboração à poesia e aos poetas brasileiros?

22, por um lado, trouxe um maior sentido de liberdade e de brasilidade a uma poesia que tendia para cair na camisa de força e por outro lado a imitar apenas os modelos estrangeiros. Contudo, 22 prestou um desserviço à poesia brasileira que a partir da liberdade caiu, muitas vezes, na permissividade e no vulgarismo.


Você já afirmou que acha mais difícil criar um poema com versos livres que um poema dentro da métrica, por quê?

Por que a métrica te dá um parâmetro, uma referência fixa, um modelo estrutural para você preencher. Para o verso livre, você tem que criar este modelo estrutural. Enquanto para um você tem uma métrica geral pré-estabelecida para o outro você tem que criar uma métrica particular para cada poema. Muitos poetas quebram a cara aí porque pensam que o verso livre é anárquico ou prosaico. Não, você pode fazer arte do caos, mas não fazer caos da arte. O verso é livre, não caótico ou frouxo.


Você está otimista quanto ao futuro da poesia feita no Brasil e na Bahia em particular?

Nem otimista nem pessimista. Realista. Oropa, França e Bahia, sempre haverá bons e maus poetas. Difícil é a má poesia grassar como um todo. Vai sempre aparecer uma luzinha brilhando.


Existe algo na literatura que o tem deixado feliz?

A maior capacidade, de certo tempo pra cá, de realizar o poema do jeito exato que eu queria. Não me preocupo se o poema é bom ou ruim, se vão gostar ou não, é aquela sensação de que eu consegui colocar no papel exatamente o que eu concebi como poema, um ser, um animal, um bicho novo, me olhando ali no papel, É muito gratificante. Tenho poemas assim há mais de 20 anos na gaveta.


Pra terminar. Apesar de ter nascido aqui na região cacaueira, muito cedo você foi morar em Salvador. Você se sente grapiúna?

Sempre disse que antes de ser baiano sou grapiúna. Ilhéus é a minha capital. Meu umbigo está enterrado em Gongogi, na Fazenda São Carlos.

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