"O jornalismo, quando começou, adotou uma linguagem que era exuberantemente literária. Isso tornava o estilo pesado, ainda mais porque o jornal era para ser consumido no dia. Foi necessário que uma geração de jornalistas criasse uma linguagem mais objetiva e mais direta para que o leitor logo se apropriasse da informação e se satisfizesse com aquilo, presumindo-se que no dia seguinte viriam informações diferentes. Fazia-se uma literatura jornalística para durar um dia, nada mais que isso. O coloquial entrou na linguagem e a literatura jornalística passou a ser mais espontânea e com certa graça. O jornalista poderia ter um estilo diferente, no caso de um colunista, mas na verdade a mensagem de que ele era portador dizia respeito a uma demanda do dia. Como o processo jornalístico se acelerou muito, pela evolução do mercado e das técnicas de produzir o jornal, cristalizou-se também uma linguagem jornalística dos cadernos, do manual de redação, que codificam aquilo que deve ser próprio para o jornal. Ora, como é uma linguagem de veloz comunicação, não deve ser um padrão para o escritor porque o escritor, ao fazer uma obra mais requintada, leva não só um ano, mas dois ou dez. O tempo de criação às vezes não comporta esse estilo jornalístico de impressionar rapidamente o leitor ou de captar sua atenção para uma leitura veloz. Isso é um aspecto, o outro é que essa literatura está ficando muito igual. Os chamados escritores populares, que usam palavrões e expressões populares, até mesmo os que fazem uma espécie de psicologismo refinado, acabam caindo naquela idéia de que é preciso comunicar com rapidez e, portanto, adotar um cânone jornalístico que abranja todos os consumidores do objeto, ou seja, o livro. Eu acho que são vícios que devem ser corrigidos porque o escritor escreve devagar quando tem consciência de seu produto e porque dentro de cada um há uma aspiração à eternidade.
Fonte: Revista E (Sesc, SP), janeiro de 2005