"Uma coisa é fazer literatura e outra coisa é escrever textos para um músico. A obra literária está destinada a imprensa; deve bastar-se a si mesma. Enquanto que o texto destinada a inspirar uma partitura deve ser completado pela música; deve exigir, por si mesmo, a intervenção do comentário sonoro; deve inclusive ter "ocos" destinados a ser preeenchidos com os sons. É muito dificil que um compositor consiga escrever uma obra mestra com um poema perfeito. Porque se corre o perigo do musico ser assassinado pelo poema ou que o poema seja assassinado pela música. E não citemos aqui os casos, excepcionais, que nos oferecem Debussy e Fauré. Isto sem contar que se bem escreveram páginas maravilhosas com versos de Baudelaire, Verlaine ou Maesterlinck, não puderam impedir que ditos versos seguiram desfrutando de vida própria, indepedentemente de suas versões sonoras... Quer dizer que colaborar com um músico é, para mim, trabalho sumamente delicado para um escritor. É preciso que este último saiba quase tanto sobre música como o compositor. Que o conheça a fundo. Que estude sua obra ,seus métodos harmônicos, suas possibilidades. Não se escreve o mesmo poema para Amadeo Roldán e Edgar Varèse, por exemplo. Ambos tratam a voz de distinta maneira. Concebem a música de outro modo... Uma vez encontrado o tom lírico que convém a um compositor, é preciso realizar o texto pedido, tendo em conta las exigências da execução musical. Segundo o copositor pretenda escrever um lento ou um allegro, se exigirão palavras curtas ou grandes. Se cuidará que os momentos de intensidad, em que o cantor deve produzir o maximum de sonoridade de sua garganta, sejam construídos com palvras que incluam vogais abertas, próprias para a emissão do som. Se empregarão termos simples e diretos, que o ouvido perceba facilmente através da música. Se eliminarão os adjetivos rebuscados, que só criam confusão no verso musical, sem dotá-lo de maior sentido. Se trocarão o metro e a rima - inúteis, msicalmente falando - por uma prosa ritmica, cujos acentos ajudem ao músico a "escandir" o texto. Para corais, o libretista deve construir textos a dois, três ou mais vozes, realizando um verdadeiro contraponto de palavras. Por exemplo se os soprani e tenores nos narram uma história, em boca dos baixos e baríitonos. Estes úlitmos, dotados de uma voz mais grave, devem servir para acentuar o duscurso de outras vozes - como se fossem instrumentos de percursão -, produzindo simples vocais, gritos ou uma declamação que apoie as vozes agudas. O libreto de uma ópera deve ser construído como uma partitura. E, se nos parece necessário e a ação o exige, o poeta deve ser capaz de construir fugas, cânones, corais ou imitações com simples palavras, de acordo com os exemplos de forma musical tomados na obra de Bach..."
Fonte: Carteles (La Habana), 07/08/1932
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