“Desde garoto senti pela literatura uma atração imensa e até certo ponto estranha e inexplicável, pois descendo, como você sabe, de pobres camponeses, de gente afeita ao trato da terra e não dos impressos. Meu pai era quase iletrado e só aprendeu a ler quando prestou, ainda na Itália, o serviço militar. No entanto eu, embora vivendo entre parentes humildes e destituídos de qualquer preocupação livresca, sempre namorei as estantes do próximo, sempre me senti extraordinariamente atraído pelos livros. Na minha cidade natal, devorei todos os romances que sua Biblioteca Pública possuía. Corri então Ponson du Terrail e Camilo. Os volumes de Camilo eram, por sinal, primeiras edições; e mais tarde acabaram sendo vendidos por muito bom preço.! Confesso que quando soube disso arrependi-me de não os ter roubado... Aproveitando as páginas em branco dos livros de escrituração mercantil do negócío de meu pai, redigia nelas romances façanhudos, rocambolescos. Ainda em Paraíba escrevi um artigo sobre Santos Dumont, a propósito de um de seus vôos em Paris. E para não fugir à regra, perpetrava também meus sonetinhos, à boa maneira parnasiana...”
Fonte: SENNA, Homero. República das letras. Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1996.
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