"Gosto de relatar. Embora o relato seja às vezes mais um certo dever do que um prazer. O que dá mesmo prazer é a epiderme das palavras, o trabalho com essa mediação da linguagem... Posso até ser visto por alguns como um escritor intimista, mas procuro me rebelar contra essa possibilidade. Me preocupam os aspectos intricados da subjetividade, da alma e tal, mas o que eu quero realmente fazer é um afresco do tempo em que estamos vivendo. As longas peregrinações dos heróis balzaquianos ou flaubertianos do século 19 são impossíveis hoje. Ninguém tem o tempo ideal para acompanhar isso. No novo livro jogo muito com essas duas forças quase opostas: a impossibilidade de tempo neste fim de século e a sedução pela instantaneidade. Um dos desejos do fazer poético é alcançar a possibilidade da coagulação, e êxtase, ter a pujança existencial num único grito, o que o Octávio Paz chama de 'a consagração do instante'"
Fonte: Folha de São Paulo, 09/11/1996 - Bernardo Ajzenberg