"Escrevo para que me escutem – quem? Um ouvido anônimo e amigo perdido na distância do tempo e das idades. Para que me escutem, se morrer agora. E depois, é inútil procurar razões. Sou feito com estes braços, estas mãos, estes olhos e, assim sendo, todo cheio de vozes que só sabem se exprimir através das vias brancas do papel, só consigo vislumbrar a minha realidade através da informe projeção deste mundo confuso que me habita. E também escrevo porque me sinto sozinho. Se tudo isto não basta para justificar por que escrevo, o que basta então para justificar alguma coisa na vida? Prefiro as minhas pequenas às grandes razões, pois estas últimas quase sempre apenas justificam mistificações insustentáveis frente a um exame mais detalhado".
Fonte: CARDOSO, Lúcio. Diário completo. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 1970.
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