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Por que escreve?
Mia Couto

"Por que escrevo? Acho que cada vez que tenho que responder a essa pergunta sinto que estou inventando uma resposta nova"

Fonte:http://www.roteiroromanceado.com

"Venho da poesia, fui antes de tudo um poeta e, portanto, tenho na palavra a base de tudo. Sou artífice da palavra. Para mim, a palavra é tão válida quanto a história. Busco sempre restituir algo divino à palavra e também usá-la como ferramenta. Escrevo porque tenho o prazer de profanar algo que é do cotidiano. Às vezes a palavra até está lá, é preciso destapá-la, tirar o pó, uma poeira que a estava cobrindo e pronto - ela é revelada, redescoberta".

Fonte: Metáfora: Literatura e cultura. (São Paulo), nº 1, 2011.

"Eu não dou conta, não tenho consciência de quando começou. Eu sou filho de um poeta, nasci em uma casa em que a poesia vivia permanentemente, não vivia só na estante, vivia na nossa relação. Lembro-me que a minha mãe tinha uma espécie de aflição permanente de pensar que "vem outro", que um filho vai herdar aquela doença, que eram os aspectos menos práticos que o meu pai tinha, e aconteceu assim. Eu não me recordo: comecei escrevendo versos para as namoradas, aos 14, 15 anos, e a minha mãe rezava para que isso fosse uma doença passageira, mas depois parece que ficou... Foi o Ho Chi Minh [1890-1969], o revolucionário vietnamita, o presidente do Vietnã, que esteve preso e escreveu na prisão belíssimos poemas de amor, cheios de ternura, da mais fina ternura. E quando perguntaram como ele foi capaz de produzir essa obra em uma condição tão sofrida na prisão, ele respondeu uma coisa que, para mim, é uma espécie de sentença. Ele disse: "Eu desvalorizei as paredes". No fundo, eu acho que escrevemos para desvalorizar as paredes.

Fonte: Programa Roda Viva, da TV Cultura, 10/07/2007

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