por Antonio Callado
“É difícil ter boas recordações da prisão, mas lembro de coisas engraçadas. O Glauber Rocha fez todo mundo rir quando ficou cabisbaixo depois que fomos informados que nossas famílias iam poder nos visitar. Aquele era um sinal de que os homens estavam afrouxando, mas ele comentou: ‘Poxa, logo agora que a gente estava se dando tão bem? Já estava acostumado...’ Glauber tinha muitos problemas com dinheiro, vivia apertado. Na cadeia, foi uma grande revelação da pintura, desenhava cenas do filme que eram divinas. O cinema era mais forte que todas as outras necessidades dele. Todo mundo quer ter uma vida minimamente planejada, é um instinto normal. Sempre quis escrever um romance no estilo de Proust, mas nunca consegui, porque tenho outras coisas para fazer. Fazemos a metade do que gostaríamos e nos tornamos comuns. Com Glauber, tudo tinha que ser inteiro. Ele era quase cego para o que não achava importante”.
Fonte: O Globo, 06/01/1996
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