por Alceu Amoroso Lima

"Ao contrário de Mario de Andrade e do seu poliedrismo, foi Oswald de Andrade um monolito. Embora, um monolito mutável. Mas em cada uma de suas mutações era um monolito e jamais um poliedro, como Mario. Foi de um dandismo absoluto, quando pré-modernista; de um esteticismo absoluto, na aurora do modernismo. E também de um absoluto cosmopolitismo. Logo em seguida passou a um primitivismo absoluto, quando rompeu com as amarras com o passado e se lançou na poesia "pau brasil". Passou em seguida a uma aboluta ressureição contra o estilo lógico e proverbial. E, de modo semelhante, a uma passagem absoluta à revolução política comunistra e soviètica. Pouco demorou, por mais imperioso que seu espirito revolucionário era o seu espírito libertário e anarquista. Enquanto foi católico, foi um reacionário. Quando perdeu a fé, tornou-se um feroz anticlerical e anticristão. embora no fundo tivesse sempre conservado uma profunda nostalgia da Fé. Portanto, sempre um radicalista total e unilateral, embora com atitudes sucessivas contraditórias. Esse espírito de contradição de contestação, de violência e de extremismo, de polarizações e de antimedianice, é sem dúvida o espirito da novíssima geração. Ora quando pode manifestar-se e o faz de modo violento, inclusive olei chamado terrorismo. Oa quando se pode manifestar-se e se traduz pelos entorpecentes, pela angústia ou por aquilo que Antonio Houaiss chmaou de "neobarroquismo", isto é, aexpressão pelas entrelinhas ou pela alusões, para vencer a palmatória ou o entorpecente maquavélico ou paternalista da censura política ou policial. Tudo isso faz com que, sem dúvida alguma, a figura mais importante e mais influente do modernismo sobre a novíssima geração seja a de Oswald de Andrade, embora este também tivesse optado por uma implícita e explícita adesão a extrema esquerda.

Fonte: Modernismo: 50 anos depois - Entrevista com Alceu Amoroso Lima. Revista de Cultura Vozes. Ano 66, nº 1, fev. 1972.

por Armado Freitas Filho

“Nos anos 1970, a poesia marginal trouxe para nós uma irreverência muito saudável. Desengravatou a poesia e a trouxe para a rua. Mas havia uma concepção errada. Oswald de Andrade se tornou não um ponto de partida, mas um ponto de chegada. Oswald é um poeta de segunda classe dentro do modernismo. Ele é melhor como romancista e autor de manifestos provocadores”.

Fonte: O Globo, 27/09/1997

Por Autran Dourado

"Em 1944, acho, quando assisti a uma espécie de Semaninha de Arte Moderna que o Juscelino promoveu na biblioteca. Em plena ditadura o Juscelino mandou fechar a porta e disse: 'Vocês ficam aqui, de porta fechada, e falem o que bem quiserem'. O Juscelino sacudiu a cidade, que era muito acadêmica. Como prefeito de Benedito Valadares ele levou o Niemeyer, o Portinari e o Burle Marx para fazer a Pampulha... Bem, naquela semana havia debates à tarde na biblioteca, e eu ia assistir as conferências. A figura provocadora de Oswald de Andrade me impresionou muito. Numa conferência que, se não me engano, está no Ponta de lança, ele, que se dizia 'casaca de ferro do Partido Comunista e do proletariado', atacava contraditoriamente o Jorge Amado e outros, malhava o Otto Maria Carpeaux, que era considerado de direita, ao contrário da posição radical de esquerda em que ele morreu. Nessa conferência, Oswald atacou também o Alceu Amoroso Lima. O Otto Lara Resende, que era um rapaz novo como eu, talvez um pouco mais velho, respondeu ao Oswald, defendendo o Carpeaux. Então, o Oswald, com grande presença de espírito, ficou gozando e provocando o Otto, que chamava de Otto Lara Maria Resende Carpeaux".

Fonte: STEEN, Edla van. Viver & escrever. v.3, 2ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008.

por Carlos Drummond de Andrade

“Quando ele publicou seu primeiro livro – Os condenados – fiz uma crítica no jornal; ele me agradeceu e quando chegou a Belo Horizonte mandou procurar por mim. Oswald era muito interessante, divertido, bom camarada, bom papo. Convoquei então Pedro Nava e Emilio Moura para visitá-lo no hotel. Era um grupo: Mário, Oswald, Tarsila, o filho do Oswald, Dona Olívia Penteado, Gofredo Telles, genro de Dona Olívia, e Blaise Cendrars. Essa noite no Grande Hotel foi de encantamento para nós. É como se fôssemos os fiéis de uma nova religião, mas não tivéssemos sacerdote. Daí apareceram três ou quatro sacerdotes para nos evangelizar. Eu, que já tinha tendência para essas coisas, que já lia e tinha noção do que fosse o movimento modernista, fiquei completamente conquistado”.

Fonte: Folha de São Paulo (Folhetim), 03/06/1985 – Augusto Masi e Lúcia Nagib

por Haroldo de Campos

"Oswald não guardava rancor de ninguém. Oswald era um homem que dizia as maiores barbaridades e depois estava disposto a se reconciliar. Ele era afetivo e ao mesmo tempo preferia perder um amigo a perder uma colocação, uma piada. Num dado momento, ele fazia a piada e perdia o amigo. Depois, ele queria ver se consertava, mas não dava. Por exemplo, com o Mario, que era mais sério, mais provinciano, jamais admitiu..."

Fonte: Folha de São Paulo, 14/09/2003 - José Marcio Rego

por João Cabral de Melo Neto

"Gosto (de Oswald de Andrade), um sujeito interessantíssimo. Eu duvido um pouco dessa cultura de Mário de Andrade, que todo o mundo diz que Mário de Andrade estava a par de tudo que se fazia de moderno no mundo. Acho que isso é exagero, por que ele estava a par de tudo isso, no que ele fazia, nem na poesia dele, nem na crítica dele, isso aparece, de forma que eu não sei onde ele guardava toda essa cultura tão atualizada. Também não acredito muito nesse negócio de Oswald de Andrade, nessa cultura dele, nessa atualização. Agora, eu o acho um poeta extraordinário, muito melhor do que o Mário de Andrade, que tem uma obra muito maior. O Oswald de Andrade é um sujeito muito mais essencial, um cara assim..."

Fonte: Folha de São Paulo, 24/04/1987 - Ivan Cardoso

"Eu vi Oswald de Andrade, se não me engano, duas vezes: uma vez eu ia entrando na casa do Aníbal Machado, e ele ia saindo com o Aníbal, no jardim, no portão do jardim... Então o Aníbal me apresentou, ele tinha recebido o meu livro, tanto que essa coisa de parentesco meu com o Oswald de Andrade, tudos isso é literatura, porque a diferença dele em relação aos meus livros era um negócio... Eu me lembro que ele virou para o Aníbal, que me apresentou a ele, e disse: 'Já li um livro dele. Frio, não é?' De forma que o Oswald de Andrade gostaria mesmo de ser e fazer aquela poesia de Mário de Andrade, mas acontece que o que ele fazia era muito bom... Embora não creia que aquilo fosse um resultado de programa dele, de consciência artística. O que acontece é que a maneira de ser dele era aquela".

Fonte: Folha de São Paulo, 24/04/1987 - Ivan Cardoso

por Lêdo Ivo

"Quando conheci Oswald de Andrade, tinha vinte e poucos anos e, de repente, recebi uma visita dele em minha casa. Naquela época, havia publicado Ode e elegía e meu nome era muito badalado. Falavam de mim e o Oswald queria me conhecer. Eu colaborava em um grande jornal, Correio da Manhã, para o qual, aliás, O Oswald de Andrade começou a colaborar, de modo que nos tornamos amigos. Ele até me agradava e me oferecia muitos jantares. A primeira briga foi porque uma vez ele me ofereceu um charuto e disse: 'Ivo, agora vou deixar você, porque vou subir para o meu apartamento e escrever um capítulo proletário de Marco Zero!' (risos). Era tão engraçado que contei no Correio da Manhã. Oswald se queixou ao diretor do jornal, Paulo Bittencourt, pedindo minha demissão. Paulo levou na troça e disse que a liberdade que ele tinha para escrever era a mesma que a minha. Outra vez, quando fui para São Paulo fazer uma palestra sobre 'A Geração de 45', ele me hostilizou muito. Aliás no livro Os dentes do dragão, Oswald falta com a verdade ao dizer que eu ia para São Paulo mostrar os meus trabalhos para ele! Na época, já havia publicado Ode e elegía e recebido os maiores elogios de Antonio Cândido, Sérgio Milliet, Sergio Buarque de Hollanda. Já ele vivia em um ostracismo terrível. Teve uma vida curiosíssima o Oswald de Andrade. Sábato Magaldi me contou que quando ele morreu foram no enterro apenas 15 pessoas. Hoje ele tem a glória literária com que sonhava, um reconhecimento impressionante. Foi praticamente redescoberto ou inventado. Atualmente, mesmo morto, ele não pode se queixar. Está ao lado de Nelson Rodrigues, de Guimarães Rosa. Existem amizades e inimizades, masaí vem o tempo e apaga tudo. Tenho muitas saudades de Oswald de Andrade, gostaria que ele estivesse vivo para ver esse reconhecimento".

Fonte: MARETTI. Eduardo. Escritores: entrevistas da Revista Submarino. São Paulo: Limiar, 2000.

por Rubem Braga

"...Os paulistas é que não queriam nada comigo. Morava numa pensão, da qual fui praticamente expulso sob a acusação  de "nortista", naquela loucura de sentimento xenófobo paulista. Um dia pedi um ovo frito e me disseram que não tinha, enquanto serviam o sujeito ao lado de omelete. Não sabia por que, já que meu aluguel estava rigorosamente em dia. A causa era pensarem que eu era "nortista". Certa vez, de brincadeira, escrevi um artigo dizendo que meu avô fora "bandeirante". Antoninho de Alcântra Machado, um paulista quatrocentão, e o Oswald de Andrade acharam muita graça e ficaram meus amigos a partir disso, mas o Mario de Andrade passou a implicar comigo pelo mesmo motivo. Ele tinha a essa altura uma grande paixão pela causa paulista, o que revelou em várias crônicas. Uma delas falava de sua viagem de avião sobre o "chão paulista", sobre a "terra paulista", sobre "as nuvens paulistas". Mário era crítico de música do "Diário de São Paulo", já era um sujeito muito importante e era até fã dele. Mas nunca cheguei a revelar isso porque o homem não queria me ver nem pintado".

Fonte: O Estado de São Paulo, 24/10/1987 - Beatriz Marinho

por Sergio Sant' Anna

"Confissões de Ralfo é o livro que sofre mais influência dele. Sua obra está cheia de imperfeições, mas é uma aula de liberdade importantíssima, principalmente para a minha geração. Ele ensinou que a gente pode tudo. Ele foi fundamental para o Brasil, como Mario de Andrade e o movimeno modernista".

Fonte: LUCENA, Suênio Campos de. 21 escritores brasileiros: uma viagem entre mitos e motes. São Paulo: Escrituras. 2001.

por Wilson Martins

“Não se pode ignorar o modernismo, pois ele propôs princípios muito oportunos. Mas hoje ele não faz sentido algum. É um pouco o mesmo caso dos concretismo. O modernismo de 22 foi uma escola de obras falhadas. Você lê os manifestos, que são muito importantes, e percebe o que eles queriam ter feito e não fizeram. O próprio Mario de Andrade dizia: ‘Macunaíma, uma obra-prima que não saiu uma obra-prima’. Mario é um escritor que está em segundo plano em todos os gêneros. Não foi um grande romancista, não foi um grande poeta... Sua grande obra não foi esse ou aquele livro, mas o modernismo de 22... O Oswald de Andrade seguiu o mesmo caminho. A cada livro que Oswald publicava, dizia-se: ‘Bem, o próximo será um grande livro’. E o grande livro nunca veio. O modernismo foi só um movimento de agitação.

Fonte: O Estado de São Paulo, 30/05/1998 – José Castelo