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ENTREVISTA SIMULTÂNEA

Nelson Rodrigues

 

Nasceu no Recife, PE, em 23/08/1912. Jornalista, cronista, romancista e dramaturgo, é considerado o iniciador do teatro moderno brasileiro. Aos quatro anos a família se muda para o Rio de Janeiro, para se juntar ao pai Mario Rodrigues, deputado e jornalista que deixou o Recife indisposto com os políticos tradicionais. Aos oito participou de um concurso de redação na escola. O tema era livre e o melhor trabalho seria lido na classe. A professora quase desmaiou ao ver sua redação: era uma história de adultério. Na infância suas leituras eram de adulto, romances onde a temática era uma só: a morte punindo o sexo ou o sexo punindo a morte.  Aos 13 anos “botou calças compridas” para trabalhar como repórter de polícia no jornal de seu pai “A Manhã”, onde também trabalhavam alguns de seus 13 irmãos. No jornal manteve contatos com colaboradores ilustres: Monteiro Lobato, Agripino Grieco, Ronald de Carvalho, José do Patrocínio, Apparício Torelly etc. O jovem jornalista impressionou os colegas com sua facilidade em dramatizar pequenos acontecimentos. Em 1931 Roberto Marinho convida seu irmão Mario Filho (que dá nome ao Estádio do Maracanã) para assumir a página de esportes. Em 1932 Nelson, também, é contratado com um ordenado de 500 mil réis por mês. Com uma vida desregrada e fumando muito, pegou uma tuberculose e ficou 14 meses, entre 1934-1935 internado em Campos de Jordão, para onde retornaria outras vezes. Casou com Elza Bretanha, também jornalista, em 1940, e foi morar no suburbio, levado uma vida de penúria. Um dia, ao passar em frente ao Teatro Rival, viu uma enorme fila para assistir A família Lerolero, de R. Magalhães Júnior, e ouviu o comentário: “Esta chanchada está rendendo os tubos”. Parou e pensou: por que não escrever teatro? Em meados de 1941 é concluída sua primeira peça: A mulher sem pecado, que só foi encenada no fim de 1942. Não foi um sucesso de público, mas alguns críticos elogiaram. No ano seguinte, escreve Vestido de noiva e distribui cópias entre os jornalistas, críticos e amigos. Manuel Bandeira elogiou e, com este aporte, conseguiu elogios em quase todos os jornais. Mas falavam que a peça era muito complexa, que exigia um cenário de alto custo; portanto dificilmente alguém se proporia a encená-la. Até que a peça caiu  nas mãos de Zbignew Ziembinski,  um ator e diretor polonês recém-chegado ao Brasil. “Não conheço nada no teatro mundial que se pareça com isso”, foi o comentário de Ziembinski. A partir daí fica famoso, odiado e amado pela crítica e pelo público, trabalha por anos na revista O Cruzeiro, onde cria folhetins com o pseudônimo Suzana Flag, e em diversos jornais. Nos anos seguintes, no entanto, teve suas peças interditadas pela censura, passou a ser sinônimo de obsceno e tarado e ficou conhecido como autor maldito. Fanático torcedor do Fluminense, foi um grande cronista esportivo, ao mesmo tempo que escrevia reportagens policiais e folhetins romanescos. Obsessivo, escreveu 17 peças, centenas de contos e nove romances. Entre as peças, destacam-se Álbum de família (1946), Senhora dos afogados (1947), A Falecida (1953), Os sete gatinhos (1958), Boca de ouro (1959), Beijo no asfalto (1960), Toda nudez será castigada (1965) e A serpente (1978). Entre romances, contos e crônicas, temos: Asfalto selvagem (1960), O casamento (1966), Cem contos escolhidos - A vida como ela é..., (1961), O óbvio ululante, (1968), A cabra vadia (1970). Em fins de 1977, com pouca saúde, reuniu algumas crônicas e publicou seu último livro: O reacionário. Mesmo doente, aceitou um convite para fazer o lançamento numa livraria em Florianópolis. Como não viajava de avião, foram 15 horas de carro junto com uma irmã, que lhe servira como enfermeira. Passou a tarde inteira sentado ao lado de uma pilha de livros, de caneta em punho, aguardando a chegada dos interessados num autógrafo. Não apareceu ninguém, nenhum livro vendido naquela tarde. A viagem de volta foi marcada por um silêncio constrangedor, o qual marcou seus últimos anos de vida. Faleceu em 21/12/1980, manhã de domingo. À tarde a seleção brasileira jogava contra a Suíça, em Cuaibá. No meio da partida, o Brasil inteiro assistiu pela TV o juiz Arnaldo César Coelho interrompendo o jogo com um minuto de silêncio para homenagear o grande dramaturgo.  

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