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Como escreve?
Mario Quintana

"Bem, surge uma imagem, uma linha; depois aquela linha vai imantando as outras coisas. A poesia não é inspiração pura, é trabalho; não é só ficar esperando que o santo baixe, é preciso puxar o santo pelos pés e isso dá trabalho; esse é o trabalho poético.... O poema vem. A gente tem um enorme trabalho para obrigar as palavras a dizerem o que a gente quer expressar; as palavras são rebeldes. O necessário é a forma única e exata pra dizer alguma coisa. Este é o trabalho do poeta: dizer uma coisa da maneira definitiva. Foi isso que eu disse ao nosso amigo Vinicius de Moraes: ‘Olha. Vinicius, tu fizeste uma ursada, uma safadeza pra nós, que passamos toda a vida procurando expressar toda a força e, ao mesmo tempo, a efemeridade do amor; tu achaste a fórmula definitiva, dizendo que o amor é eterno enquanto dura’. Todos sentem a mesma coisa. O poeta não diz coisas do outro mundo, senão não encontraria leitores. O leitor tem de entender o que o poeta diz".

Fonte: RICCIARDI, Giovanni. Auto-retratos. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

"Não sei pensar à máquina. Escrevo a lápis. Depois, com o queixo apoiado na mão esquerda, passo a coisa a limpo com um dedo só, na máquina. Não uso caderninhos...Às vezes a frase nem é poética. Certa vez, por exemplo, disse-me um companheiro ao observar um nosso amigo, desses do tipo 'mosquito elétrico', gesticulante, etc.: 'Fulano parece um boneco de engonço'. Pois bem, fui para casa e escrevi um dos meus poemas mais realizados, aquele que assim começa: 'Os mortos são ridículos como bonecos de engonço a que cortassem os fios'. Por outro lado, meu poema 'O morituro', em Apontamentos de história sobrenatural, saiu ali publicado na sua quarta versão. E olhe lá!".

Fonte: STEEN, Edla van. Viver & escrever 1. Porto Alegre: LP&M, 2008.

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