“Não tenho nenhum plano regular. Escrevo vários livros ao mesmo tempo, é como que me descanso das preocupações dum noutro. Às vezes abandono inteiramente o que estou em via de escrever, para escrever alguma inspiração de momento. Foi o que sucedeu com Macunaíma, por exemplo, escrito numa semana sem parar. Meus livros não se ligam uns aos outros. Quando publico uma obra me desligo completamente dela... Escrevo meus livros só nas horas vagas de minha outras ocupações. No Brasil ainda é raro o escritor que pode viver dos seus próprios livros... Em geral escrevo diretamente a máquina. S ou muito afetivo e por isso dedico um verdadeiro amor humano às coisas que me cercam. Minha Remington, por exemplo, se chama Manuela, com o que eu fundo no mesmo carinho a máquina e o meu melhor amigo, que se chama Manuel. Já está bastante velha, mas emobra um pouco ruidosa já, funciona perfeitamente, graças ao meu cuidado com ela. E lhe confesso que, que como uma verdadeira amante, ela me tem proporcionado pela sua maneira de ser, seus vícios e suas qualidades, um bom número de ideias aproveitáveis. Já lhe dediquei mesmo um dos meus poemas".
Fonte: LOPEZ, Telê Porto Ancona. Mario de Andrade: entrevistas e depoimentos. São Paulo: T.A. Queiroz, 1983
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