"Que o escritor se dedique à cirurgia ou à profissão de pedreiro, caso se interesse pela técnica. Não existe meio mecânico algum para se escrever: nenhum atalho. O jovem escritor seria um tolo se seguisse uma teoria. A gente aprende pelos próprios erros; as pessoas só aprendem errando. O bom artista crê que ninguém é suficientemente bom para dar-lhe conselhos. Possui a suprema vaidade. Não importa quanto admire o escritor antigo, quer suplantá-lo... Às vezes, a técnica arremete e assume o comando do sonho, antes que o próprio escritor possa deitar-lhe a mão. Isso é um tour de force, e o trabalho completo não é mais do que uma questão de ajustar com cuidado tijolos uns sobre os outros, já que o escritor, provavelmente, sabe cada palavra que virá até o fim, antes de escrever a primeira. Isso aconteceu com As I lay dying. A coisa não é fácil. Nenhum trabalho honesto o é. Ocorreu que eu já tinha todo o material à mão. Levei apenas, para escrevê-lo, seis semanas das horas de folga de um trabalho manual de doze horas diárias. Imaginei simplesmente um grupo de pessoas e sujeitei-as a simples catástrofes naturais que são as inundações e o fogo, lançando mão de um motivo natural simples, que lhes desse ‘desenvolvimento’. Mas, também, quando a técnica não interfere, o escrever, em outro sentido, é também fácil. Porque comigo há sempre um ponto, no livro, em que os próprios personagens se levantam, assumem o comando e terminam a tarefa – digamos ali pela página 275. Claro que não sei o que aconteceria, se eu terminasse o livro na página 274. A qualidade que um artista deve possuir é objetividade pura para julgar seu trabalho, além da honestidade e da coragem de não enganar a si próprio a respeito dele. Já que nenhum de meus trabalhos atingiu os próprios padrões por mim estabelecidos, tenho que julgar cada um deles baseado naquele que mais sofrimento e angústia me causou, assim como a mãe tem mais amor pelo filho que se tornou ladrão ou assassino do por aquele que se tornou sacerdote".

Fonte: COWLEY, Malcolm. Escritores em ação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968.