"No fazer poético, a revelação não é um saber de algo ou voltar a ser aquilo que o poeta revela que somos; porisso não se produz como juizo: é um ato inexplicável exceto por si mesmo e que nunca assume uma forma abstrata. Não é uma explicação de nossa condição, ela mesma, se revela ou manifesta. O filósofo ordena as idéias conforme uma ordem racional; o historiador narra os fatos com o mesmo rigor linear. O romancista não demonstra nem conta: recria um mundo mesmo porque seu ofício é relatear um acontecimento - e neste sentido se assemelha ao historiador - não lhe interessa contar o que aconteceu, e sim reviver um instante ou uma série de instantes, recriar um mundo. Por isso alude aos poderes rítmicos da linguagem e as virtudes transformadoras da imagem. O poeta canta o canto. Mas o canto é comunicação. Ao monólogo não pode acontecer somente o silêncio, ou uma aventura entre todas desesperada e extrema: a poesia não encarnará já na palavra e sim na vida. A palavra poética não consagrará a história, ela própria será história, vida".
Fonte: GRITTI, Delmino. Dos tijolos da Suméria aos megabytes pós-humanos do terceiro milênio. Caxias do Sul (RS): Ed. Liddo, 2007.