"No processo de escrita de um poema, conto ou romance, acredito que é fundamental a inspiração, porque, para mim, sem ela, não poderia escrever nada; ou, talvez, nem começasse a escrever. Na linguagem verbal, está subentendida a possibilidade de transcedência, isto é, de abrir-se ao mistério, ao novo universo que se instaura, por exemplo, no mommento e que criamos personagens, damos vida a eles, características e personalidades. Este ato é, sobretudo, criador; torna-se divino, transcendental, a partir de elementos do mundo real. A literatura nos permite apreender o mundo real, a fim de transcrevê-lo de um modo específico. A poesia, por exemplo, dede seus primórdios, era conisiderada a arte suprema, primogênita, porque é, na linguagem poética, segundo Heidegger, o lugar da manifestação do Ser. Para heidegger,  a poesia traz a mensagem dos deuses e o poeta é o mensageiro, o ponto de interseção entre o céu e a terra, porque ele tem total domínio da linguagem que manipula, e, por essa razão, pode apontar novos sentidos e novas possibilidades ao ser  humano. A poesia executa seu papela de fundadora da verdade, porque ela desobjetifica a linguagem, clareia o que está sendo velado. Sem a inspiração, portanto, eu não consigo escrever. Ela pode vir de um pensamento abstrato ou de uma observaçãodo real, justamente quando estamos atentos às coisas e às pessoas que estão em nossa volta. Nesse sentido, percebo a literatura como condutora do ser humano ao seu próprio caminho de transcedência. Há, portanto um estreito vínculo entre Literatura e Religião no sentido lato, de re-ligare o homem a Deus, o que faz da palavraa intermediadora nessa relação. O ato da escrita presume duas situações, quais sejam: a) Primeiro, a inspiração deve estar atrelada à criatividade, ao  transcendente. Por isso, é preciso criar e recriar as palavras, muitas vezes, desconstruí-las, construí-las, fabricá-las, brincar com elas, porque no ato da escrita instaura-se mundos possíveis e impossíveis. Se eu não sou místico, criativo, dinâmico, versátil, minha história parecerá comum, sem o deslumbramento necessário; b) Segundo, torna-se preciso que esta história, somada a criatividade, seja, bastante, trabalhada, porque escrever - diferente do que o senso comum imagina - exige um trabalho árduo, às vezes, de horas, noites, anos a fio, para que, finalmente, o texto seja publicável"

Fonte: Enviado pelo autor em 12/8/2017