"Ao escrever — e quando escrevo me machuco — busco eliminar as vozes incongruentes. Eliminar o ser observador e intruso. Recuperar, enfim, a inocência da primeira infância. É preciso, mas, tristemente, não consigo. De fato, chega uma hora em que se torna necessário sair pela porta de trás. [...] É preciso buscar um motivo para esta escritura e, por isso, eu recorrerei às palavras sem me preocupar se ela será publicada ou vendida, canonizada ou desprezada. Eu quero apenas deixar algumas marcas neste corpo complexo, deixar o meu registro, o meu sinal de sangue, num lugar vazio e nefasto de nós mesmos. Ter, afinal — nesses tempos de inseguranças, de medo, de ermo espiritual ou desabrigo sentimental — alguma coisa de anacrônica, daquilo que era, e alguma coisa sincrônica, daquilo que se pretende ser, para, simultaneamente, dizer alguma coisa".
Fonte: KALLARRARI, Celso. O Ritual dos Chrisântemos. São Paulo: Reflexão, 2013, p. 21-22).
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