“Para mim, escrever é uma terapia. Se eu não escrevesse, seria possivelmente um marginal, um assaltante de banco, não sei. Me angustia muito não estar escrevendo. Meus períodos de angústia são aqueles em que eu termino um trabalho e não estou fazendo outro. Escrever para mim é terapia, remédio. O que me dá equilíbrio psíquico é ter cumprido a tarefa do dia. Hoje eu escrevi tantas páginas: aí eu me sinto bem comigo mesmo. Senão, vem a sensação de culpa, fico me punindo... Eu sou mesmo o meu próprio psicanalista. Acho que por enquanto não há problema que eu não possa resolver, desculpem a presunção. As minhas neuroses eu mesmo curo, sei os remédios e tenho até uma certa técnica que os Irmãos Maristas, no colégio interno, me ensinaram. Eles sempre recomendavam que, no fim do dia, você fizesse um exame de consciência. Acho que veio daí esse hábito de estar sempre me auto-analisando. Já cedo, ao acordar, eu analiso previamente o que tenho de fazer naquele dia. Creio que para o meu caso, esse pequeno balanço diário funciona como uma modesta e eficiente forma de auto-análise”.
Fonte: Psicologia Atual. V.5, n. 26, jun. 1982
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