"Tenho me recusado a admitir a questão preconceituosa (e as fronteiras que sugere) sobre se nos inscrevemos numa literatura de cunho social ou de cunho psicológico. Essa dicotomia não existe, não pode existir. O indivíduo faz corpo com seus dramas, os seus júbilos e o seu ambiente. A sondagem 'psicológica' e a 'sociológica' pertencem a mesma incessante tentativa de nos conhecermos, situados na circunstância que nos molda e nos condiciona. O que se verfica é um escritor interessar-se mais por uma dessas sondagens do que pela outra, ou escapar-lhe quanto ambas se interprenetram, Na nossa geração o 'social' aproximou-se-nos com mais premência e agudeza, mas nem por tal deixamos de considerar que nenhuma panorâmica gregária correcta pode ignorar a complexidade e as particularidades dos homens que a compõem. Por conseguinte, quando o psicologismo nos serve para uma explicação mais esclarededora do homem e da realidade, a ele recorremos, integrando-o numa visão dinâmica da vida, não o confinando, portanto ao deleite da pesquisa mórbida, da excentricidade, do labirinto subjectivo de costas voltadas para o que o justifica. Nas obras de minha geração verdadeiramente representativas há homens e não títeres".
Fonte: Encontros com Fernando Namora. Porto; Ed. Nova Crítica, 1979.