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Psicanálise
Raimundo Carrero

"No princípio posso lhe dizer que a literatura intimista ou existencial me era insuportável. Eu nem gostava. Para mim, a verdadeira literatura estava na região, não exatamente regionalista, mas regional. Daí meu afastamento de Machado de Assis e de Clarice Lispector. Eu nem gostava de ver aquilo. Sinceramente. Mais de uma vez tentei lê-los e não consegui. Mas acho que uma peça de teatro causou uma tão avassaladora influência em mim que rompi a barreira e vi o que havia de terrível no outro lado. Ali estava minha alma e eu precisava conhecê-la. Trata-se de Longa jornada noite adentro, de O'Neill. Foi um choque muito grande, um choque horripilante. Eu fiquei arrebatado por aquilo, resisti e capitulei. Ainda hoje faço releituras de partes e de todo o livro, sempre aos pedaços. Se alguém olhar direitinho, ali está a forte influência. O problema é que, no princípio, eu não quis reconhecer. Passei momentos que não gosto de lembrar. Se perceberem bem, vendo bem mesmo, ali está o tema central de minha obra: a decadência, a desestrutura de uma família, o caos familiar. Tudo porque, posso revelar, eu tinha medo de não saber construir uma família, de não saber criar meus filhos, de não ser um pai, como acontece na peça. E é a primeira vez que estou falando disso. Então tive que me afastar do regional para atingir o existencial".

Revista Papangu. Natal, ano 5, nº 49, fev. 2008.

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