"Teve uma época aí que eu andava bebendo muito e o Pedro Nava e o Marcelo Garcia me arranjaram uma analista. Não era análise de ficar deitado no divã, não. Era de bate-papo. Ela me disse: 'Vamos limpar essa cabecinha um pouco, tirar essa angústia de sexo, de morte, de tempo'. Eu estava disposto a ir ao fundo das coisas. Mas ela era uma mulher interessante, tinha umas pernas lindas. Constatei aquilo sem nenhuma sacanagem, sem nenhuma idéia de paquerar a mulher. Um dia, ela virou para mim de repente e disse: 'O que o senhor está pensando?'. Respondi: 'Que você tem pernas lindas'. Ela ficou vermelha, subiu-lhe um fogaréu na cara... Aí não voltei mais ao consultório. Se voltasse, era para paquerar mesmo... Continuo com as mesmas angústias. Aquela mulher queria me pasteurizar, tirar mnha teias de aranha. O que ia ser de mim, depois?
Fonte: STEEN, Edla van. Viver & escrever. v.3, 2ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008.
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