por Antonio Carlos Vilaça
“O Manuel foi fazer uma conferência no Colégio Santo Inácio, em agosto de 1947. Eu morava na Tijuca e era uma noite de chuva, mas assim mesmo eu fui, de capa e guarda-chuva, nos meus quase 19 anos, para ouvir Manuel que falava sobre a sua própria poesia. Havia muita gente, apesar da chuva. Drummond, Alceu Amoroso Lima, José Lins do Rêgo, Margarida Lopes de Almeida, João Condé. No meio da conferência Bandeira resolveu acrescentar ao texto escrito um soneto que havia publicado no fim do seu primeiro livro A cinza das horas, 1917. Era um soneto chamado Renúncia, escrito em Teresópolis em 1906, quando o poeta tinha 20 anos. Mas no meio da declamação improvisada a memória do poeta falhou, e eu disse o verso em voz alta: ‘A vida é vã como a sombra que passa’. É claro que Manuel ficou muito feliz e pode assim prossegir a declamação do soneto. Na saída, Drummond nos perguntou irônico: Vocês combinaram o negócio?”
Fonte: O Globo, 09/04/1995 – Elizabeth Orsini
por Aurélio Buarque de Holanda
"O culpado (por eu ter me tornado dicionarista) foi o Manuel Bandeira. Indicou-me
o poeta à Editora Civilização Brasileira para, a partir da 3ª edição, fazer, no Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, a parte de brasileirismos. Porém, minucioso, meti-me em outras searas, de tal forma que praticamente acabei revendo, na parte da redação, todo o dicionário, e acrescentando-lhe inúmeras palavras de uso geral".
Fonte: SENNA, Homero. República das letras. 3ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.
por Bruno Tolentino
“Minha obra poética está basicamente terminada. Escrevi poesia por mais de trinta anos e não conheço nenhum outro poeta, além de Manuel Bandeira, que tenha conseguido escrever bem além dessa média. A partir daí, decai.”
Fonte: Veja, 20/03/1996 – Geraldo Mayrink
por Carlos Drummond de Andrade
“Escrevi uma carta a ele. Eu o admirava muito. Descobri uma vez na Livraria Francisco Alves, que era o ponto de encontro dos escritores de Belo Horizonte, um livro dele chamado A cinza das horas. Aquilo me impressionou, a começar pelo título. Passei a ler e a gostar dele, e um dia lhe escrevi uma carta. Uma carta muito respeitosa, porque naquele tempo os jovens respeitavam muito os mais velhos. Hoje é aquela bagunça geral, ninguém respeita ninguém. Ele então me respondeu com muita simpatia – as cartas dele para mim estão publicadas nas suas obras completas, edição Aguilar. Manuel exerceu também uma influência muito grande sobre mim. Ele e Mário (de Andrade) foram as pessoas que mais me orientaram”.
Fonte: Folha de São Paulo (Folhetim), 03/06/1984 – Augusto Masi e Lúcia Nagib
"Bandeira é mais velho do que eu. Aprendi a fazer versos através dos versos dele. É um homem excepcional. Os poeta, em geral, ou morrem aos vinte e poucos anos ou atingem os cinquenta e deixam de escrever. Um homem de setenta e sete anos, escrevendo com a graça do Bandeira. é algo de assombroso. Ele é uma espécie de arco-iris na poesia brasileira. Abrange todas as experiências... até mesmo o concretismo! Màrio de Andrade fez bons poemas, mas era revolucionário. O Bandeira é esclarecedor".
Fonte: BLOCH. Pedro. Pedro Bloch entrevista. Rio de Janeiro: Bloch Editores, 1989.
por Davi Arriguci Jr.
"Os autores que me interessam mais são os que captam os movimentos da história nesses objetos postos de lado. Bandeira é um homem que começou a prestar atenção no mundo a partir das pequenas coisas, que aparentemente não têm história, mas que na verdade estão imersas nela. Esses objetos perdidos fazem parte da nossa história de forma mais profunda que as coisas ostensivas. Borges dizia que as historicamente mais profundas acontecem nas datas secretas, não nas grandes datas ofociais.”
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/1999 – José Castello
por Ferreira Gullar
"O Bandeira encontrei mais, porque ele colaborador do Jornal do Brasil, onde eu trabalhava, e era mais aberto (do que Drummond), fácil no convívio. Ia entregar seu artigo e dizia: 'Você é o poeta Ferreira Gullar. gostei muito de Luta corporal. Você é um poeta feroz'. Encontramo-nos algumas vezes na redação e na rua".
Fonte: LUCENA, Suênio Campos de. 21 escritores brasileiros: uma viagem entre mitos e motes. São Paulo: Escrituras, 2001.
por João Cabral de Melo Neto
"Manuel Bandeira era parente muito próximo. eu o visitava toda semana. O Bandeira era muito curioso poque ele tinha saído do Recife aos 9 anos e nossa conversa, fora a literatura, era a respeito da família. eleperguntava: 'E fulano com era?' Às vezes,me dizia: 'Isso aqui você deve ler que é muito bom"
Fonte: Folha de São Pulo, 30/03/1991- Augusto Masi
por Marcello Cerqueira
“O poeta brasileiro que leio com mais agrado é o Manuel Bandeira e ele fez depois do golpe uma poesia nojenta dizendo: ‘Voltei ao Recife de minha infância sem Arraes e com arroz’. Quando a gente era moço achava que quem não era de esquerda não era bom. Hoje a gente sabe que não é assim. A visão sectária fecha as portas, é o fechamento do mundo”.
Fonte: Jornal do Brasil, 17/09/1994 – Luciana Villas-Boas
por Mario de Andrade
"Eu fico espantado de como há certos homens no mundo! Tu, por exemplo. Essa sublime bondade inconsciente, bem no íntimo, de quem nem sabe que é bom."
Fonte: BLOCH, Pedro. Pedro Bloch entrevista. Rio de Janeiro: Bloch Editores, 1989.
por Mario Quintana
"Por falar em conhecimentos ilustres, fui ao Rio em 1966 para lançar minha Antologia poética a pedido expresso de Manuel Bandeira, o qual me escreveu instando-me que fosse, pois não podia viajar porque já estava com oitenta anos e queria dar-me um abraço antes. Escrevi-lhe: 'Isto não é um pedido. É uma ordem. Irei. Mas você não imagina como eu sou chato no intervalo dos poemas".
Fonte: STEEN, Edla. van. Viver & escrever 1. Porto Alegra: LP&M, 2008.
por Pedro Nava
"As correções que houve n' O defunto foram feitas por Manuel Bandeira, que gostava dos versos. Depois eu vi que aquele não era o meu poema. Então voltei ao ruim e tirei o bom do Bandeira pra vestir minha roupa: ele me dera um smocking emprestado, eu peguei meu paletó-saco outra vez..."
Fonte: CAMINHA, Edmilson. Palavra de escritor. Brasília: Thesaurus, 1995.
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