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Como escreve?
Bernardo Carvalho

“Não tem regra nenhuma. Cada livro surge de modo diferente. Quando comecei a escrever Aberração (o primeiro livro de contos publicado em 1993) era correspondente da Folha de S.Paulo em Nova York, mas escrevo histórias há muito tempo, sempre escrevi, sempre fiz anotações. Pois bem, com a crise econômica provocada pelo governo Collor, o jornal suspendeu os contratos com correspondentes. Tinha seis meses de aluguel e resolvi ficar ali, escrevendo. No caso de Onze (o primeiro romance, de 1995), o trabalho estava desinteressante, estava insatisfeito, e escrevia à noite como modo de repor as energias. Com Os Bêbados e os Sonâmbulos, havia ganho uma herança de meu pai, e parei de trabalhar para escrever. Escrevo no máximo duas horas  por dia - e rápido. No caso de Teatro, estava assim também, sem trabalho fixo. Mas não gosto de mistificar o trabalho do escritor. Eu trabalho e, se toca o telefone, atendo. Não preciso me isolar, não há grilos. Posso acordar no meio da noite para escrever, não há horários rígidos....Quando comecei Aberração não sabia, mais tarde foi que encaminhei para o conto. Minha escrita é híbrida, um gênero maleável. Muitas pessoas disseram que os contos eram romances concentrados, sinopses de romances. E quando publiquei Onze, disseram que era um conto expandido. Transito nesse terreno híbrido de gêneros misturados. O conto exige uma intensa concentração. O romance vai indo, mais solto”.

Fonte: Correio Braziliense, 5/4/1998

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