“Não sei como ela (a crítica literária) pode ou não influenciar no mercado. Quando soube que Aberração, mesmo com críticas legais não tinha vendido muito na França, percebi que hoje o mercado é autônomo. O que tiver de vender, vai vender. Mas, paralelamente, acho que a crítica é deficiente. Nos jornais, na mídia, falta erudição, conhecimento, sensibilidade para entender uma obra. E, na universidade, tenho a impressão de que as pessoas não querem sujar a mão com o arriscado, falta uma generosidade com o que está sendo feito. Isso eu acho feio... Tanto na universidade quanto no mídia os gostos passaram a ser viciados. Você só reconhece, você não conhece. Toda a crítica é feita pelo reconhecimento, e qualquer projeto que escape, que tente se livrar de todas as fórmulas, não pode ser reconhecido. Ele tem que ser conhecido. E isso os caras não permitem. Fica difícil uma literatura sobreviver num ambiente que tem de um lado o mercado e, de outro, uma crítica inexistente. Guimarães Rosa, quando surgiu, não era o cara do reconhecimento e, sim, do conhecimento. Paulo Rónai, quando leu o trabalho dele percebeu que estava diante de algo maravilhoso, ele teve sensibilidade para entender aquilo. Hoje, tenho certas dúvidas de que se alguém jogar um livro extraordinário nas mãos de um crítico, seja na imprensa, seja na universidade, ele vai se esforçar para descobrir alguma coisa ali”.
Fonte: Cult (SP) n. 10, maio de 1998 – Heitor Ferraz
|