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Como escrevo?
Gilberto Mendonça Teles

"Os gregos falavam de musa; os latinos de inspiração; Paul Valéry pensou em anjo ou demônio; Freud deve ter pensado no desejo. Eu penso na vontade: de vez em quando sou tomado pela vontade-desejo de escrever algo, e começo a escrever. O ato de começar põe em ação uma série de elementos de ordem racional, psicológica, lingüística, temática, estética, ética, em fim, minha competência (meu saber) e minha capacidade de ir mais longe (conhecimento, busca, falta de preconceitos, bom gosto, autocrítica etc.). O problema é começar bem, escrever e não ter preconceitos de corrigir, de melhorar. Se existe um método é o de fazer convergir tudo isso em linguagem. O poema (a poesia que a gente quer ler) é pura linguagem. E a linguagem do poema não aponta nada, a não ser a si mesmo. É autônomo. A pouca referência exterior do poema é para o dicionário, mas os sentidos do dicionário podem sofrer ou acrescentar dois sentidos (dois semas), especiais que podem não existir para o poeta. Mais além disso, ele subverte as palavras do poema a um tratamento retórico especial: sintaxe, ritmo, figuras, enfim, um tratamento artístico, da melhor maneira possível que possa fazer no momento (e depois do momento, quando corrige). Citando Mário de Andrade: ‘Arte é espremer mais tarde o poema’, tirar as imperfeições. Em dois de meus livros, trato deste tema: emRetórica do silencio e em A Escrituração da escrita, este último publicado recentemente pela Editora Vozes".

Fonte: <www.poeticas.com.ar>, 11 de novembro de 2004.

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