"Quanto ao papel do escritor, é claro que é o de escrever. Mas isto não significa, como queria a famigerada esquerda brasileira, que ele tenha a obrigação de denunciar. Numa resposta a Antônio Rezk, no jornal O Escritor, da UBE de São Paulo, quando ganhei o “Juca Pato”, escrevi que:
Desde cedo ouvi dos escritores mais velhos que a literatura era o "reflexo da sociedade". Mas ninguém no Brasil me dizia qual a natureza desse reflexo e como ele se dava: Era um simples espelho, de estrutura ambígua — de uma, duas ou mais faces? "Refletia" direta, indireta ou simbolicamente? Estava dentro ou fora da sociedade? Enfim, questões que cresceram comigo até que fui encontrando pensadores como Alain Badiou ("A literatura não reflete o real, uma vez que é o real desse reflexo"); teóricos da história, como Jacques Le Goff, para quem "O romance [a literatura] não é produzido para descrever a sociedade e ele não a reflete, pois é parte dela. É a parte inquieta e sombria, é seu grito de angústia, seu esforço para solidificá-la"; e grandes poetas como Willian Butler Yeats, para quem "o espelho deve se tornar lâmpada, converter-se em sua própria atividade criadora e emitir a sua luz própria". Com isto, toda uma teoria romântica, de origem platônica, era posta em xeque no seu absolutismo. Ao lado da concepção tradicional, passei a ver a literatura (em todas as suas manifestações) como uma forma especial de Arte, isto é, uma arte literária, de linguagem autotélica, altamente construída, capaz de ir além dos simples condicionamentos políticos e atuar, estética e criticamente, na formação e na transformação da consciência social. Daí porque os governos discricionários têm sempre medo dos escritores".
Fonte:http://www.sobresites.com/poesia/gilbertoteles.htm (11/11/2009)