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Como escreve?
Gore Vidal
"Sempre que me levanto de manhã, escrevo durante cerca de três horas. Escrevo os romances a mão, em blocos de papel amarelo, exatamente como o Criminoso Número Um, Nixon. Por algum motivo, escrevo peças e ensaios a máquina. A primeira versão normalmente surge muito depressa. Uma curiosidade: nunca releio um texto até terminar a primeira versão. Senão, é muito desencorajador. Também porque quando você tem a coisa toda ali na frente, pela primeira vez, já esqueceu a maior parte e vê tudo como se fosse novidade. Reescrever, no entanto, é um negócio vagaroso, penoso. Para mim, o principal prazer de ter dinheiro é poder pagar por quantas versões redatilografadas eu quiser. Quando eu era jovem e pobre, tinha que datilografar eu mesmo, por isso raramente fazia mais que duas versões. Agora, passo por quatro, cinco, seis. Quanto mais, melhor, já que o meu estilo é muito o de pensar duas vezes. Minha frase para Dwight Macdonald. 'Você não tem nada a dizer, apenas a acrescentar', referia-se de fato a mim. Só depois que alguém fez uma paródia de mim foi que percebi como sou dependente do aparte parentético - o comentário sobre o comentário, o verniz irônico sobre a frase direta, ou o relato direto de uma questão cômica. É um estilo que deve parecer um tanto sem sentido para meus contemporâneos, porque eles não vêem necessidade desse tipo de elaboração. Mas, uma vez mais, é a única coisa que acho interessante fazer... Ressaca ou não, escrevo todos os dias durante três horas depois que me levanto até termianr o que estiver fazendo. Às vezes, porém, faço uma pausa no meio de um livro, algumas de vários anos. Comecei Julian, não me lembro... mas acho que se passaram uns sete anos entre o inicio do livro e sua retomada. A mesma coisa aconteceu com Washington, D.C . Por outro lado, Myra eu escrevi praticamente de uma vez só... em algumas semanas. Ele se escreveu sozinho, como se diz. Mas depois foi bastante reescrito... Quando comecei a escrever, costumava planejar tudo de antemão, não apenas capítulo por capítulo como página por página. Tremendamente constrangedor".

Fonte: Os escritores: as históricas entrevistas da Paris Review. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

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