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Política
Gore Vidal

“Depende do escritor. A maioria dos escritores americanos não se envolve muito (com a política), além de assinar petições. Normalmente são acadêmicos… e cautelosos. Ou políticos literários em tempo integral. Ou ambos. O veio principal de nossa literatura é o cotidiano, de cabo a rabo. Sim, muitos grandes romances foram escritos sobre o dia-a-dia, os de Jane Austern e outros. Mas é preciso uma arte suprema para fazer esse tipo de coisa ser interesante. De maneira que, na falta de uma arte suprema, é melhor ter um bom cérebro e se interesar pelo mundo exterior. D.H. Lawrence escreveu uma coisa muito interesante sobre o jovem Hemingway. Chamou-o de escritor brilhante. Mas acrescentou  que ele era essencialmente um fotógrafo e que seria interesante ver como envelheceria, porque o fotógrafo pode continuar apenas tirando fotos do exterior. Uma das razões por que o dotado Hemingway nunca escreveu um bom romance é que nada lhe interesava exceto algumas experiêcias sensuais, como matar coisas e poder: coisas interesantes de se fazer mas nem um pouco interesantes de se escrever. Esse tipo de artista vê-se em apuros muito cedo porque tudo aquilo sobre o que consegue realmente escrever é ele mesmo, e depois da juventude o eu – desengajado do mundo – é de somenos interesse. Reconheço, Hemingway perseguiu guerras, mas nunca teve muita coisa a dizer a respeito da guerra, ao contrário de Tolstoi ou mesmo Malraux. Acho que quanto mais você souber sobre o mundo e quanto mais ampla a rede que lançar sobre a sociedade, tanto mais interesantes serão seus livros, e sem dúvida tanto mais interessado você será... Claro que não (considero meus romances como romances políticos). Sou um político quando faço um discurso ou quando escrevo algo para foentar uma idéia política. Num romance como Burr não estou compondo uma polêmica sobre os fundadores da República. Estou descrevendo a maneira como os homens que querem o poder reagem uns aos outros, e a si mesmo. Os outros livros, invenções como Myra, estão além da política, no sentido usual, pelo menos".

Fonte: Os escritores: as históricas entrevistas da Paris Review. São Paulo: Companhia das Letras. 1988.

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