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Como escreve?
Nélida Piñon

"A partir da decisão de escrever, até chegar ao texto, a iniciar o convívio com o texto e até concluir a feitura de um texto, o escritor passa inúmeros estágios. O que talvez caracterize mais a linguagem é a sua mutabilidade, seu dinamismo, a sua capacidade de roubar do escritor tudo que obrigatoriamente ele deve conceder à literatura, à linguagem; e é também a capacidade que o escritor tem, enquanto escreve, enquanto cria, de captar da realidade todos os subsídios que ela está lhe fornecendo enquanto está vivendo. Se eu estou fazendo um romance que tarda três anos, eu não fico paralisada, não me converto numa estátua. Eu sou alguém que não abdica do direito de viver em todas as instâncias e com todas as freqüências melódicas; portanto a minha linguagem está sempre se depurando, sempre se transformando. Eu registro essa mutabilidade, esse lado cambiante, matizado, da linguagem. Eu tenho essa consciência absoluta e absurda de quanto a linguagem se fragiliza para engrandecer, para ir dentro do universo da narrativa. Mas eu também sei que há um determinado instante em que você alcança o ponto, a temperatura ideal dela. Aí, você não pode mais tocar".

Fonte: RICCIARDI, Giovanni. Auto-retratos.São Paulo: Martins Fontes,

1991.

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