"Procurei ser jornalista por gostar de escrever. Esta afirmação, entretanto, não diz tudo. Tudo é o seguinte: procurei ser jornalista por gostar de escrever e por gostar da ‘fábrica’ de escrever que é o jornal. É possível que os bancários cheguem a ingressar no banco pelo gosto do dinheiro. Cheguei ao jornal pelo gosto da ‘máquina de escrever’: é toda uma equipe fazendo piruetas inimagináveis, a fim de produzir uma ‘obra’ por dia. Esse aspecto lúdico do jornalismo me fascinou infantilmente, sobretudo na mocidade. Hoje mantenho com o jornal um certo retraimento. Tornei-me cronista porque foi o caminho que me ofereceram. Ser jornalista em casa também tem seus encantos, uai. A crônica me permitia a liberdade de espaço, liberdade de horário e liberdade de assunto: três proveitos num só saco. A única relação que existe entre o poeta, o cronista e o jornalista é a matéria prima: palavras. O cronista é um ser ambivalente; fica sempre no meio, uma ponte entre o castelo do poeta e a redação de notícias".
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/1985 - Beatriz Marinho
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