"Ultimamente venho chamando meus romances de crônicas contemporâneas, o que parece servir-lhes melhor. Eles têm uma forte conotação política porque, afinal de contas, nos nossos tempos a política, mais do que tudo – embora não seja a única coisa – tem conduzido as pessoas. Não vejo por que o fato de tratar de política possa prejudicar um escritor. Apesar de ter dito num romance que a política é ‘a pistola disparada na ópera’, Stendhal também escreveu crônicas contemporâneas. Veja Tulcíades. Não creio que sua história tenha sido prejudicada pelo fato de ele ter sido um escritor político. Muita coisa boa em literatura envolve-se, em maior ou menor escala, com a política, se bem que sempre seja um terreno perigoso. Para certas pessoas, é melhor se manter de fora, a menos que estejam dispostas a aprender a observar. Essa é a ocupação de um tipo especial de escritor. Sua investigação – usando blocos de experiência crua – tem que ser equilibrada. Sartre, nas suas reportagens diretas, sem adornos, era maravilhoso. Não consigo lê-lo agora. Em seu campo, o escritor tem que ser ao mesmo tempo engajado e desengajado. Tem que ter paixão, preocupação e raiva – mas deve manter as emoções a uma boa distância em seu trabalho. Se não o fizer, estará sendo simplesmente um propagandista, e aquilo que fizer será sermão".
Fonte: Os Escritores – as históricas entrevistas da Paris Review. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
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