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Política
Milton Hatoum

"Bom, na literatura, quanto menos explicar, melhor. Melhor ainda é não explicar nada. O mais importante é você compreender os personagens do que julgá-los. Se julgá-los, você está partindo de um pressuposto ético do autor. Muitos leitores passam por cima do narrador. Acham que aquela posição moral, aquele sentido moral que está no personagem pertence ao autor, quando na verdade pertence ao personagem, e tem que entender isso no romance: como essa moralidade existe, como ela muda, com o tempo, qual a relação dele com os outros personagens... Sou de uma geração que atuou contra o regime militar... Quando posso, falo das injustiças, das desigualdades, da disfaçatez de tantos políticos, das tenebrosas transações, como disse Chico Buarque numa música belíssima. Agora, cada escritor tem a sua voz e a sua preocupação ética, moral ou ideológica. Não me omito. Desconheço a palavra omissão. Também não tenho nenhum problema em criticar a direita, que por si só eu já tiro como desprezível e nefasta, nem a esquerda, quando deve ser criticada. A minha posíção é quase de um franco atirador solitário, que paga um preço por isso. Não tenho partido. Traduzi um livro do palestino-americano Edward Said, que se chama Representações do intelectual . Ele fala que a posição do intelectual é de um outsider. Ele está fora, não está dentro do sistema, ou de um partido. Ele tem que criticar, com lucidez, as injustiças sociais, guerras, invasões. É isso que acontece. Não calo diante das direções".

Fonte: Um escritor na biblioteca: 2011. Curitiba: Biblioteca Pública do Paraná, 2013.

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